quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Água como Mercadoria

Geralmente só posto aqui textos meus. É um exercício meu e uma contribuição autenticamente minha pra discussão com quem visita aqui. Mas hoje eu recebi essa carta sobre um tema que muito me aflige nesses dias e não tem texto melhor que ela pra postar aqui. Mundão tá complicado, viu... Abraços.

Frei Luís precisa viver
César Benjamin


Procuro um livro na estante de casa. Na folha de rosto, a dedicatória: "Para o César, que também caminha nas mesmas margens do mesmo rio. Gentio do Ouro, outubro de 2001." De dentro do livro cai um cartão que já estava esquecido: "César, grato por sua inesperada suavidade, por sua lúcida e firme presença. Grato por você existir. Te abraço. Adriano." Não consigo conter a emoção.
Entre de 1992 e 1993, durante um ano, Adriano e mais três pessoas realizaram uma caminhada de 2.700 quilômetros, das nascentes à foz do rio São Francisco. O livro que ganhei de presente quando os visitei no sertão – Da foz à nascente, o recado do rio, de Nancy Mangabeira Unger – narra poeticamente a empreitada desse grupo de heróis, cujas vidas se confundem com a luta pela vida do rio e das populações sertanejas que dele dependem.
O líder dos peregrinos era um frei franciscano, o mais franciscano de todos franciscanos que conheci, Luís Cappio. Não lembro em que localidade o encontrei – acho que foi em Pintada –, mas nunca o esqueci. É um homem raro. Vive visceralmente o cristianismo, a sua missão. Hoje, é bispo da Diocese da Barra. Continuou o mesmo simples peregrino, um irmão da humanidade, um pobre vivendo entre os pobres. Está em greve de fome há mais de vinte dias e pode morrer. Adriano continua ao seu lado.
Aboletado em Brasília, o presidente Lula acusa frei Luís e seus companheiros, contrários à transposição das águas do rio São Francisco, de não se importarem com a sede dos nordestinos. Para quem conhece os dois personagens, é patético. Um abismo moral os separa. Desse abismo nascem as suas diferentes propostas.
O Semi-Árido brasileiro é imenso: 912 mil km 2. É populoso: 22 milhões de pessoas no meio rural. É o mais chuvoso do planeta: 750 mm/ano, em média, o que corresponde a 760 bilhões de metros cúbicos de chuvas por ano. Não é verdade, pois, que falte água ali. A natureza a fornece, mas ela é desperdiçada: as águas evaporam rapidamente, sob o Sol forte, ou vão logo embora, escorrendo ligeiras sobre o solo cristalino impermeável.
Há décadas o Estado investe em obras grandes e caras, que concentram água e, com ela, concentram poder. O presidente Lula quer fazer mais do mesmo. No mundo das promessas e do espetáculo, onde vive, a transposição matará a sede do sertanejo. No mundo real, apenas 4% da água transposta serão destinados ao consumo humano, em uma área equivalente a 6% da região semi-árida. "É a última grande obra da indústria da seca e a primeira grande obra do hidronegócio. Uma falsa solução para um falso problema", diz Roberto Malvezzi, da Comissão Pastoral da Terra .
Graças a gente como Cappio, Adriano e Malvezzi, o Semi-Árido nordestino experimenta uma lenta revolução cultural. Centenas de organizações sociais, apoiadas pela Igreja Católica e por outras igrejas, adotaram o conceito de convivência com a natureza e desenvolveram in loco cerca de quarenta técnicas inteligentes, baratas e eficientes para armazenar a água da chuva. Ela é suficiente – corresponde a quase 800 vezes o volume d'água da transposição –, mas cai concentrada em um curto período do ano .
Eles lutam por duas metas principais: "um milhão de cisternas" e "uma terra e duas águas". Combinados, os dois projetos visam a proporcionar a cada família do Semi-Árido uma área de terra suficiente para viver com dignidade, uma fonte permanente de água para abastecimento humano e uma segunda fonte para a produção agropecuária, conforme a vocação de cada microrregião. As experiências já realizadas deram resultados magníficos .
Para oferecer isso à população sertaneja, é preciso realizar a reforma agrária e construir uma malha de aproximadamente 6,6 milhões de pequenas obras: duas cisternas no pé das casas, para consumo humano, uma usual e outra de segurança; mais 2,2 milhões de recipientes para reter água de uso agropecuário. No conjunto, é uma obra gigantesca, mas desconcentrada. A captação de água realizada assim, no pé da casa e na roça, já é também a distribuição dessa mesma água, o que desmonta uma das bases mais importantes do poder das oligarquias locais. Armazenada em locais fechados, ela não evapora. Impulsionado por milhares de pessoas, este poderia ser um projeto mobilizador das energias da sociedade, emancipador das populações sertanejas, se tivesse um apoio decidido do governo federal.
A proposta tem respaldo técnico da Agência Nacional de Águas (ANA), que realizou um minucioso diagnóstico hídrico de 1.356 municípios nordestinos, um brilhante trabalho. O foco é a região semi-árida, mas o diagnóstico inclui grandes centros urbanos, como Salvador, Recife e Fortaleza, abrangendo um universo de 44 milhões de pessoas. As obras propostas pela ANA, as igrejas e as entidades da sociedade civil resolvem a questão da segurança hídrica das populações. Estão orçadas em R$ 3,6 bilhões, a metade do custo inicial da transposição do São Francisco.
Isso não interessa ao agronegócio, um devorador de grandes volumes de água em monoculturas irrigadas, produtoras de frutas para exportação e de cana para fabricar etanol. É para ele e para alguns grupos industriais – grandes financiadores de campanhas eleitorais – que a transposição se destina, pois esses precisam de água concentrada. Ao sertanejo, cada vez mais, restará a opção de migrar ou se tornar bóia-fria.
Para deter a marcha da insensatez, frei Luís entrega a vida, o único bem que possui. Não lhe restou outra opção, pois o governo se esquivou do debate que prometeu. Preferiu apostar na política do fato consumado. Agora, a farsa só poderá prosseguir sobre o cadáver do bispo. O presidente Lula deixou claro que considera essa alternativa aceitável. Porém, antes desse desenlace terrível, o presidente deve meditar sobre as palavras de Paulo Maldos, do Conselho Indigenista Missionário, seu tradicional aliado: " Ao redor do gesto radical do bispo está se formando uma corrente de solidariedade, de apoios, de alianças, de identificação ética, política, social, ideológica, cujos contornos são facilmente identificáveis: trata-se dos movimentos sociais, políticos, pelos direitos humanos, pastorais sociais, personalidades da Igreja Católica, da política, da cultura, que, desde os anos 80, constituíram Lula como liderança de massa em nosso país. (...) Se dom Cappio vier a falecer, será o final dessa história. Não será dom Cappio apenas que morrerá. Morrerá a referência política de Lula e do Partido dos Trabalhadores na história dos movimentos sociais do Brasil. (...) A história da liderança popular de Lula será a história de um fracasso. A morte física de dom Cappio sinalizará a morte política de Lula."
Suplico que o presidente abra o diálogo com rapidez, por generosidade ou por cálculo: frei Luís precisa viver.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Citroen C4 Pallas - Que Palla foi essa?

Só pra registar, pra desmarcar o que às vezes de tão berrante passa desapercebido e acaba sendo absorvido sem se dar conta.

C4 Pallas, o novo carro da Citroen, que vem com mil adicionais de série, há algumas semanas deu as caras na telinha. Você não quer só o carro, você quer o conceito, quer o poder mágico que aquele bem te oferece. Quer a picape valente, o carro que vira robô, aquele outro que transforma as ruas em algodão, lombadas em jacaré e não sei mais o quê... Tudo isso vai muito além de um simples carro.
Mas C4 Pallas foi além. Um tio com perfil de colonizador, uma mulher atraente, ar condicionado, motor silencioso e direção macia. Até agora nada fora da realidade cotidiana da elite brasileira e mundial. Agora, daí pra virar o portal de um universo paralelo, o exagero é insano: As ruas lipas e vazias, o horizonte também limpiinho azul. Até o cara resolve abrir a porta. Sai do carro e encontra tudo de indesejável que o modelo de sociedade em que ele vive produz, pra poder produzir também o seu carro. Sujeira, poluição, protestos.. Até um protesto aparece no fundo! hahaha
Impressionado, ele entra de volta no carro, encontra a mulher com olhar curioso, e atalha: "It´s fine". Acelera o carro, e continua a seguir no mundo dos sonhos que aquele carro é capaz de criar, com direito a música clássica de elevador chique no fundo. "It´s fine?!?!" Que bizarrice é essa??

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Além do bem-estar físico

Saiu uma reportagem no Jornal de Brasília, pra qual eu também dei entrevista. Saiu uma foto também. Bem legal (apesar dos pesares). Preferi colocar o link, que aí todo mundo vê a reportagem na fonte.
Abraços pra os que não vejo há algum tempo.
http://www.clicabrasilia.com.br/impresso/noticia.php?edicao=1658&IdCanal=27&IdSubCanal=&IdNoticia=303118&IdTipoNoticia=1

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Parte dois

A parte dois era também pra ser sobre o homem-aranha, mas a respeito do filme 3. A principal razão pra separar os filmes em dois postes foi a de que um texto só ficaria grande demais e comprometeria o ânimo de ler um texto de blog.
O que acharam do filme?
O que me fez pensar que o 3 seria interessante destacar é que nele o ego do Parker foi provocado ainda mais que nos outros dois. Nesse ele consegue começa conseguindo conciliar a MJ, o amigo Osborne e a vida de aranha. Mas o que o faz tropeçar é justamente o sucesso como aranha. Consegue salvar a vida da filha de um general, aceita uma homanagem da cidade e ainda beija moça - acho que exagerou.
Nesse meio-tempo aparece um vilão (ou anti-herói) que havia fugido da prisão, com filha doente, com brigas com a mulher, e que ganha poderes de se desmolecularizar e se transformar em areia. Seu nome é Marko. Quando ele aparecem em cena (de crime), o Aranha vai pegá-lo com extrema arrogância - e acaba perdendo a luta. Peter também andou se arrogando, só que dessa vez com um concorrente pelo emprego no Clarim Diário. seu concorrente era Brock, que precisava muito de dinheiro e de ingressar de vez na carreira de fotógrafo.
O fato é que a presunção e arrogância de Peter/Aranha o faz fracassar em todos os aspectos: com Brock, com o Areia, com Mary Jane e com Osborne, que havia sofrido um acidente mas recupera sua memória e recorda o ódio que nutria pelo Aranha.
Passando dessa parte de desenhar a história (todo mundo viu esse filme), o que interessa são as batalhas. Não as batalhas de efeitos especiais e etc, mas as batalhas do interior de cada um.
O simbionte (a roupa de Venom) é a tentação de Parker nesse filme, e põe em jogo inclusive sua trajetória de Aranha. Ele perde por um tempo mas depois se determina a fazer o certo: aposentar a roupa. Essa vitória foi a primeira e a mais necessária. Brock trapaceia pra ganhar de Peter no emprego, mas é descoberto (primeira derrota). No final, também não soube trabalhar sua própria gana e morre junto com a roupa (derrota final). Brock, que estava cheio vingança no coração, depois de ver a bravura de Peter e Osborne em lutar pelo que certo, decide dar outro rumo pra sua vida e voltar pro foco inicial - ter saído da prisão justamente pra dar um jeito em sua vida que havia ficado fora dela. Osborne decidiu de ultima hora deixar amizade falar mais alto do que a herança material e de ganância que recebeu do pai, e ajudou o Aranha, acabando por entregar a própria vida em prol da vitória.
Enfim, cortando mil detalhes do filme que dariam muito mais fundamento ao que foi dito aqui, Homem-Aranha 3 realmente faz jus ao nome de "The Battle Within" ou "A Batlha Interior". Esse enfoque pra mim é o que mais vale a pena no filme.
Abraços pra todas pessoas que entram aqui e constroem comigo o Carta. Desculpem a demora, mas eu estou envolvido em tanta coisa que tá difícil atualizar aqui. Mas não morrerá. hehehe

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Heróis - Parte um

Esses dias eu tive a oportunidade de ver o milionário e recordista pessoalmente. Trata-se do Homem-Aranha 3. É claro que tal encontro necessitava de um preparo especial: fui até a locadora e peguei o um e o dois. Eu ainda tava de repouso e atestado pós-cirúrgico, então tava tranqüilo. Eu nunca tinha feito isso antes (aliás, pra quem me conhece melhor, sabe que eu não tenho tanta paciência pra filme), mas eu recomendo assistir a maratona de filmes antecessores ao que você quer ver no cinema. Vale à pena.

Mas o que eu tinha pra falar não era exatamente sobre isso. Era sobre o conteúdo dos filmes do Homem-Aranha. Dá pra extrair coisas interessantes de filmes hollywoodianos, sim. E tem muito filme cult-francês-calça-atochada que não vale nada, também. No primeiro filme, quando ele enfrenta a aparição do Duende Verde, Peter era um cara zoado, fraco, e com inserção apenas nos estudos. É picado pela aranha geneticamente modificada (propaganda sublimar dos transgênicos.. hehe brincadeira) e aí aumenta seus atributos físicos e etc. Com os ganhos em poder, aumentam-se os ganhos em responsabilidades (e isso não é meu, é uma frase do Tio Ben, de Peter). Isso se aplica, sobretudo nos relacionamentos de Peter: sua paixão adolescente se torna um risco pra Mary Jane, sua tia May se torna um dos principais alvos pros vilões e seu melhor amigo é também o filho de seu pior inimigo. Resumindo, além de derrotar o Duende, o desafio de como Peter-Aranha irá lidar com seus relacionamentos e sua vida ‘normal’ a partir da transformação é a grande trama do primeiro filme. Ele resolve seu conflito com MJ quando ela percebe que é apaixonada por ele e não pelo Aranha.

No segundo filme, seu principal problema se agrava. Começa mostrando de várias formas, como o Aranha engoliu o Peter. Enquanto Aranha agia sem trégua nas ruas, Peter ia mal nos estudos e nos relacionamento. A coisa vai se complicando até que ele percebe o quanto está estressado e nem Aranha estava mais dando conta de ser. Peter então demite o Aranha de sua vida, mas não de sua consciência. O lado Peter começa a ir bem, até que Peter se vê forçado por sua tia May e seus conselhos (aliás, decisivos pros encaminhamentos dos fatos nos 3 filmes) a retomar a vida de Aranha por maiores que fosse as implicações. Enfrenta Dr. Octopus, a dor de seu melhor amigo, e resolve de uma vez mostrar a raiz dos problemas pra Mary Jane (sem conotação maliciosa heim pessoal).
O que me deixou mais impressionado com o 2° filme é que a trama do filme se passa muito mais na cabeça de Peter/Aranha, do que na arena contra vilões. O maior desafio era a vida. Como vivê-la em situações como essa? O que Peter percebeu é que precisava ser Herói, independente de como as coisas fossem ficar. Uma das principais razões pra retomada do Aranha foi quando Peter percebeu a dependência das crianças de heróis como o Homem-Aranha. Se tem uma coisa que gostei no filme foi isso. O grande conflito de Peter não é prender assaltantes, isso aí ele fazia fácil com poderes de aranha. A questão era como conciliar tudo, como trabalhar horas mil de Aranha e ainda conseguir sustento pro Peter... Como ser Peter e relacionar com as pessoas que tornam o Aranha vulnerável...

No fim das contas, o interesse com esse texto não está exatamente no herói Aranha, mas o herói Peter. Aranha tem super-poderes. Agora, Peter representa alguém comum, com objetivos, sonhos, possibilidades para alcançá-los – inclusive o Aranha dá a Peter muitas oportunidades sujas – mas ele não opta por elas.

***
O livro de Christopher Reeve, Still Me, conta a história do super homem. Não exatamente de Clark Kant, mas da vida do ator que o interpretou. Li uma resenha do livro uma vez e li também uma entrevista com o autor. Nela, ele falava sobre definições de herói. Conta como a definição de herói pra ele mudou quando ele sofreu um acidente e ficou paraplégico e outras complicações. Isso tudo é importante. Herói não é aquele que tem superpoderes, faz atos de grandes repecursão, etc., não necessariamente. Herói, o que todos nós deveríamos ser, é aquele que luta contra os problemas da vida, contra as injustiças, procura fazer o bem por maiores que sejam as conseqüências e busca forças pra continuar vivendo, não obstante tudo o que apareça. Enfim, entre tanta baboseira no mundo dos best-sellers, dos blockbusters hollywoodianos, temos dois exemplos de grande impacto e com lições pra se extrair, mostrando um conceito diferente de herói pra essa sociedade vazia de razões.

sábado, 9 de junho de 2007

Chávez X RCTV

Esse post de hoje caracteriza bem a idéia do Carta Desmarcada. É uma notícia atual e uníssona na mídia brasileira e internacional que nos cerca. Tá meio difícil pra mexer com internet e computador nesses tempos de pós-cirurgia pra mim, mas ou eu fazia isso logo ou o momento oportuno iria passar.
É sobre o fechamento da Rádio Caracas de Televisión – RCTV, na Venezuela. Antes de qualquer coisa, quero deixar claro que entre os dois pólos (o “contra” e o “a favor”), podem existir considerações que pendendo tanto prum lado como pro outro. Mas, como a nossa mídia nitidamente polarizou-se pro lado contra, me restou o papel de advogado do diabo.
A notícia já está dada há algum tempo e todo mundo já está sabendo. O modo esse quadro foi pintado por todas as agências midiáticas (as maiores, obviamente) também já sabido, embora a maioria não tenha se dado conta disso. Então, o que sobrou pra mim foi o de tentar mudar o foco da discussão e dar destaque a certos elementos que são, pra mim, fundamentais para a compreensão desse ocorrido. Como não é minha intensão fazer um post grande demais ou ficar falando sozinho, vou tentar destacar o que acho mais importante.
O primeiro elemento é o porquê, ou qual é o interesse nesse ocorrido. A primeira reflexão a ser feita é de que Chávez se encontra numa enrascada – mexeu com quem diz o que aconteceu no mundo e como aconteceu. Ele cutucou a mídia e quem ficou encarregado de dizer como isso ocorreu foi a própria mídia. Sendo assim, haveria alguma possibilidade da Globo se posicionar favoravelmente à medida na Venezuela, independente das razões?! Aliás, a sucursal da Globo na Venezuela cedeu um importante espaço em sua grade para a RCTV continuar transmitindo alguns de seus programas. Será que há possibilidade?
Tem outro ponto que também é sobre interesses, mas nesse caso o que quero destacar é a relação entre as motivações, de um lado as de Chávez e sua equipe de encerrar a concessão da RCTV e, do outro lado, a motivação da mídia em geral para ter veiculado propaganda nitidamente negativa à medida de Chávez (aproveitando pra criticar seu governo) e de forma tão tendenciosa.
Pra discutirmos isso, é necessária uma mudança de prisma, pra desmistificarmos o ar de verdade absoluta que paira sobre qualquer palavra proferida por Wilian Boner, Carlos Nascimento, família Civita (Veja) aos tão massacrados olhos e ouvidos do nosso povo brasileiro.
Não precisou ser combinado, mas as matérias seguem um mesmo padrão. A linha principal de argumentação é: ‘se agrediu a mídia, violou o direito de liberdade de imprensa e de expressão, e é nazi-fascista’. A coisa fica tão louca que precisa haver uma explicação à altura pra uma atitude tão medonha: ‘Trata-se de um Ditador!’ Ah tá.. Agora sim, faz sentido. No entanto, como diz o Emir Sader, a imprensa se refere a Chávez como ditador, mas quando vai falar de Bush é o presidente Jorge W. Bush, quando se remonta a Getúlio, era o presidente Getúlio Vargas, ou mesmo pra falar de Costa e Silva, Castelo Branco e etc. Quando se fala sobre uma imprensa democrática, mídia e democracia, simplesmente fica de fora qualquer menção ao fato de que quem controla a mídia é um micro segmento social, encrostado no topo da montanha de pobreza e discriminação, que é a América Latina de modo geral. Não se fala que na mídia não tem negros, não tem pobres e não tem nada que deslegitime o capitalismo e nem a desigualdade abissal a que estamos ‘acostumados’. Será que os proprietários da RCTV estão pensando na democracia, ou mesmo na pobre nação venezuelana, ou estão pensando em seus próprios bolsos?
O fato é que quando se questiona a democracia na imprensa, não se questiona o fato de que são oligarquias e grandes empresas que detém o monopólio da mídia e se apropriam dela para fins privados. Na época do ultimo falido golpe contra Chávez, não se questionou o fato de que a RCTV apoiou tal atitude antidemocrática abertamente. No Brasil, não se questiona o fato de que o Grupo Naspers, que apoiou e financiou o Apartheid na África do Sul é proprietário de 30% da Editora Abril, responsável pela Veja. Isso aí, não, isso aí não deu no jornal...

# Hoje é sábado. Amanhã se completa uma semana desde a não renovação da concessão pra RCTV. E o JN lançou panfletos em cadeia nacional todos os dias dessa semana, sem exceção.

terça-feira, 29 de maio de 2007

otimismo/frustração X pessimismo/letargia

Saudações, amigos,


Nesses últimos tempos de blog observei umas coisas interessantes. Tenho muita coisa guardada e que julgo útil, importante, e relevante para compartilhar com vocês, mas escolhi falar sobre isso aqui nesse momento.
Os últimos 5 posts aqui no Carta tiveram pouca participação, sendo que o sexto obteve um bom nível de participação. Quando postei sobre o dia do índio, pensei numa coisa que me deixou preocupado - seria como que um teste pro blog que eu criei. Foi que, quando eu fui postar sobre o Índio, pensei: "tem tanta coisa que poderia ser dita aqui e que não é dita por aí que eu nem sei por onde começar". Foi aí que tive a idéia de fazer um espaço onde não seria eu o autor, mas você que visita aqui. Acoplada a essa idéia, veio também um pensamento apreensivo: "será que o pessoal vai fazer o post acontecer ou não vai topar? Se ninguem topar, o post vai morrer e eu vou ficar como nos outros milhares de blogs por aí, falando pras paredes".

Entre pessimismo e otimismo, preferi ignorar qualquer previsão e postar logo antes que o dia do Índio se esfriasse. Acho que o resultado foi, obviamente, o realismo: 3 comentários, um anônimo e descolado do tema, e dois meus. hehehe =/

De lá pra cá, atualizei o Carta com pequenos comentários e pouco texto meu escrito. Isso não desmerece o debate que os temas poderiam sucitar e caso eles aparecessem, a regra seria a mesma e eu comentária todos. Mas não aconteceu. Nesse meio tempo, pensei em muita coisa legal pra botar aqui, mas sempre era pêgo pelo seguinte pensamento: vai prestar pra alguma esse esforço danado de transformar idéia em texto? Vai valer a pena?

***

Acho que essa coisa de otimismo e pessimismo vem sempre acompanhada de duas pulgas, uma pro pessimismo e outra pro otimismo. A do otimismo é a frustração: a pessoa é movida pela esperança de que aquilo vai dar muito certo e acontece o contrário, e quanto mais alto o sonho, maior o impacto de sua possível não realização. A pulga do pessimismo é a letargia. Afinal, se a chance de dar errado é tão concreta, vale mesmo a pena tentar?

Vira e mexe eu falo do objetivo desse blog, que pode ser resumido em troca de idéias em nível mais fundo do que o papo nosso de cada dia. Na verdade isso é mais do que um objetivo, isso é uma condição de existência. Acho que encerro esse post com um pedido: dêem um sinal de vida e me digam o que podemos fazer.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Entrevista comigo na Rádio Ralacoco

Segunda feira vai ter. Vou estar no programa "De Tudo Um Pouco" , da Rádio Ralacoco - UnB, falando sobre vegetarianismo e sobre o Grupo de Estudos Vegetarianos. Seria uma horna ter vocês, meus amigos, como ouvintes.

O programa é segunda agora, 28/05, às 18 horas. Para acessar pela internet, façam o seguinte:

entrem no link http://ralacoco.radiolivre.org/ e lá cliquem no link no centro da página para ouvir. Precisa estar na internet.

Abraços e até lá.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Matéria sobre a palestra

Pois é, pessoal.
A palestra repercutiu e ganhou visibilidade. Duas imprensas da UnB foram lá cubrir o evento com fotos e entrevistas. Uma das matérias já foi publicada, aqui:

http://www.unb.br/acs/unbagencia/ag0507-36.htm

Acessem!

terça-feira, 8 de maio de 2007

Palestra Sobre Vegetarianismo


Amigos,


É com muito orgulho que venho anunciar a abertura das atividades do Grupo de Estudos Vegetarianos na UnB pra 2007.
Quero convidar cada um de vocês que freqüêntam aqui o carta desmarcada para comparecerem à palestra que dará início aos estudos desse ano, com o tema: Soluções Vegetarianas Para Uma Alimentação Saudável que será ministrada pelo chef de cozinha vegetariana e autor de apostilas e livros relacionados ao assunto Alexandre Pimentel.
A palestra será nessa sexta, pontualmente às 12h30. O local é Universidade de Brasília, minhocão ala norte, sala B1 - 488 - Mesanino em frente ao CESPE.

Qualquer coisa, aqui pelo blog. Se quiserem comentar algo, já sabem, né?

Até lá.

segunda-feira, 30 de abril de 2007

1° de Maio - A Festa

*Dia 1º de Maio Classista e InternacionalistaA partir das 9 horasPraça do RelógioTaguatinga*

*CONVOCAM: CONLUTAS-DFE, INTERSINDICAL, SINDÁGUA, SINDECON, GRÊMIO CEAN,OPOSIÇÃO DO . SINDSER, RESISTÊNCIA E LUTA - OPOSIÇÃO DOS CORREIOS, COMITÊ DELUTA CONTRA A REFORMA UNIVERSITÁRIA - DF, MOVIMENTO NACIONAL LUTA SERVIDOR,EXNEL, OPOSIÇÃO DO DCE-UNB, MOVIMENTO RENOVAÇÃO PELA BASE - OPOSIÇÃO DEESQUERDA DOS PROFESSORES DO DF,ANDES-SN, ADUNB, PSTU, PSOL, PCB.*

- O conjunto de grande parte da esquerda do DF está aí representada. Vale a pena comparecer.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Desmarcando certas cartas: dia do índio

É sabido que mês de abril tem 1 dia dedicado ao índio. É costume ver as crianças, ricas ou pobres, pretas brancas ou vermelhas, pintadas de índio - são caracterizadas de índio por seus professores (professoras) e vão pra casa assim.

O papel do Carta Desmarcada nessa data (um pouco atrasado, eu sei; mas é que to sem net e sem computador) é o de passar a bola pra você, que acompanha aqui lendo e postando na seção de comentário.

O jogo é o seguinte
Na TV e nos jornais, saiu muito pouco sobre o índio. Cabe a você deixar aqui a sua contribuição à respeito de Quem é esse índio? qual é a história desse dia? Como anda o povo indígena atualmente? Existe alguma questão contemporânea que vive o índio e que precisa ser desmarcada?

Mão na massa. Eu também vou postar algumas coisas na seção de (longos) comentários.

sábado, 7 de abril de 2007

Textos Próximos

Quero tratar melhor desse tema, por mais que já esteja nas entrelinhas ou já tenhamos conversado sobre isso.
Como vocês já sabem, os textos daqui são meus. E quando não são meus, são textos que me chegam e, portanto, desenham uma parte da minha realidade. No caso de textos que não são meus, eu me comprometo a ser o primeiro a comentar, de alguma forma, pois o foco principal desse espaço aqui é a troca de pontos de vista.
Quando abri esse espaço aqui, minha idéia era a de socializar com meus amigos, textos que exprimissem minhas idéias, meus posicionamentos, etc. sobre tudo o que desse na telha, pois percebia que só o tempo de conversa na rua, quando nos encontramos, era insuficiente pra trocarmos idéias mais sólidas, ou que exijam um esforço maior.

Outra coisa que me motivou a isso foram os textos próximos. Faz um bom tempo que leio bastante texto de pessoas importantes’, teóricos conhecidos, etc. Depois percebi que estava perdido, em meio a pessoas importantes’, mas que nunca saberão de fato quem sou, qual é o meu dia a dia, nunca conversaram comigo, nunca riram, nem nunca choraram comigo. São textos distantes, são importantes, porém distantes. De agora pra frente, quero continuar dando mais importância a textos próximos, talvez não tão importantes para um círculo de pessoas renomadas, mas importantíssimos pra mim. Pra conhecer melhor quem somos, pra ir mais fundo nas idéias de quem faz minha vida ser tão grata do jeito que é.

quinta-feira, 22 de março de 2007

Considerações sobre o Nike Shox

É engraçada essa história do nike shox. Já vi deles por até 700 reais. Se brincar, tem mais caro.
Do ponto de vista do valor, fico pensando o que é que faz um tênis que começou custando 500$ (já era o mais caro do mercado quando chegou) alcançar esse preço de 700 reais agora. Por acaso foi algum material que ficou mais caro assim 50% mais caro? Ou foi alguma barreira comercial? Se bem que um dos fabricantes de Shox é o própria Nike no Brasil (apesar desse último não ver nem a cor, nem o cheiro do dinheiro advindo do produto).
Além disso, ainda na questão do valor, trago pra cá uma dúvida: O que é, afinal, que faz um tênis ficar tão caro!? O que é que faz o nike shox valer 700$ ou mesmo 500!?

Do ponto de vista das Necessidades, fico pensando o que é o torna tão procurado. Reza a lógica da necessidade que, se estamos com frio, procuramos calor; se o que estamos calçando está ruim, procuramos algo melhor. E, pras nossas necessidades, hoje em dia as saídas são mil. Temos muitas formas de nos aquecermos e mil formas de nos calçarmos com alguma coisa. Dentro de tantas variedades, um dos critérios de escolha é o custo X benefício. A partir desse raciocínio, surge outra dúvida: Como vem a ser favorável a relação custo X benefício na compra de um tênis que pode custar o preço Sete pares de tênis!?!

***

Aqui no Guará, a relação de nike shox deve estar na margem de 3 em cada 4 playboys. Na academia onde eu malho, chega a ser engraçado. Parece até um uniforme. Teve um dia que TODOS que estavam lá, homens e mulheres, tinham um (até eu. heheh brincadera). Não adianta vir com a desculpa de que existem mil modelos de shox no mercado. Todo mundo usando o tenis igual. E isso é porque dizem que na lei do mercado, na lei do capitalismo, a prioridade é a liberdade, é as pessoas sendo diferentes pelos produtos que possuem, é autenticidade. E que num regime de maior igualdade, as pessoas estariam submetidas à ditadura da pouca oferta, da pouca variedade.

Pra você ver que nada escapa à ditadura da alienação cultural, onde só o que conta é o status vazio das mercadorias que se consome. Mais do que qualquer escassez de produtos diversificados, mais avassaladora é a massificação de um ideal vazio e unívoco, na forma de tênis.
Ainda assim, há uma massificação penetrando mais fundo e há mais tempo. Essa é a escassez da variabilidade dos espíritos; cujos corpos não vão muito além dos manequins que exibem os produtos que compraram, e suas vidas não vão muito além de uma vitrini e seus observadores.

sexta-feira, 16 de março de 2007

Agradeço por ser mulher

Agrada-me que digam que sou histérica,
porque então posso jogar os pratos na cabeça de quem me causa sofrimento.
Gosto que me chamem de bruxa,
porque então posso mudar a direção dos ventos a meu favor.
Gosto que me chamem de demônio, porque posso queimar o leito onde me abusam.
Gosto que me chamem de puta, porque então posso fazer amor com quem me dá vontade.
Gosto que digam que sou frágil, porque me lembram que a união faz a força.
Gosto que digam que sou fofoqueira, porque nada do que é humano me será alheio.
Porém, o que mais agradeço, o que mais me agrada, o que eu mais gosto e o que me faz mais feliz
é que me digam que sou louca, porque então nenhuma liberdade me será negada.
Agrada-me saber que meu cérebro é menor que o cérebro do homem,
porque então meu cérebro cabe em todos os lugares.
Agrada-me que me digam que careço de lógica,
porque então posso criar uma lógica menos fria e mais vital.
Agrada-me que digam que sou vaidosa,
porque posso olhar-me no espelho sem me sentir culpada.
Agrada-me que me digam que sou emocional,
porque posso chorar e rir à vontade. Mil e uma vezes a Inquisição me queimou
e aprendi a nascer das cinzas.
Prenderam-me em um harém e, enclausurada, não deixei de rir.
Colocaram um cinturão de castidade e adquiri a arte de um serralheiro.
Carreguei fardos de lenha e me fiz forte.
Cobriram-me o rosto com véus e aprendi a olhar sem ser vista.
Os filhos me acordaram à meia-noite e aprendi a manter-me em vigília.
Não me enviaram à Universidade e aprendi a pensar por minha conta.
Transportei cântaros de água e soube manter o equilíbrio.
Extirparam-me o clitóris e aprendi a gozar com todo o corpo.
Passei dias bordando e tecendo e minhas mãos aprenderam a ser mais exatas que as de um cirurgião.
Ceifei o trigo e colhi o milho, porém me roubaram a comida e com fome aprendi a viver.
Sacrificaram- me aos deuses e aos homens, e voltei a viver.
Espancaram-me e perdi os dentes, e voltei a viver.
Assassinaram- me e me ultrajaram, e voltei a viver.
Arrancaram de mim meus filhos e, no pranto, voltei à vida.
Agradeço por ser um animal, porque os homens colocaram em perigo a sobrevivência do planeta.
Agradeço por ser mulher
porque o homem não é o centro do universo e sim apenas mais um elo perdido na cadeia da vida.
Agradeço que me digam que sou irracional,
porque a razão tem conduzido aos piores atos de barbárie.
Agradeço por não ter inventado a tecnologia,
porque ela tem envenenado a água e o ozônio.
Agradeço que me tenham colocado mais perto da natureza,
porque nunca estarei só.
Agradeço que me tenham confinado ao lar e a família, porque posso fazer de toda a Terra meu lar e minha família.
Estou feliz que me chamem de dona de casa, porque posso apoderar-me da minha.
Estou feliz de não ser competitiva, porque então serei solidária.
Estou feliz de ser o repouso do guerreiro, porque posso cortar-lhe o cabelo enquanto dorme.
Estou feliz de ter sido excluída do campo de batalha, porque a morte não me é indiferente.
Estou feliz de ter sido excluída do poder porque longe do poder me distancio da ambição e da cobiça.
Estou feliz que me tenham excluído da arte e da ciência, porque as posso inventar de novo.
Com tanta fortaleza acumulada, com tantas habilidades e destrezas aprendidas, mulher, se tentar conseguirá o mundo do avesso.
-
(Texto de autoria desconhecida. Supõe-se ser de uma sindicalista da Guatemala)

- Recebi esse poema por uma lista de discussão da unb. Lá ele causou uma polêmica, uns aprovando e outros, não. Quero ver como ele vai se sair aqui. Aproveito pra agradecer, muito, a presença de vocês aqui. Espero que esteja valendo a pena pra vocês, pelos metade do que tem valido pra mim. Aos amigos: saibam que, ao se importarem em ler e ao comentarem, estão descobrindo mais de ti e aprofundando nossos laços de amizade.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Sobre o dia internacional das mulheres

Pro dia de hoje eu poderia colocar várias coisas..
Poderia falar sobre a história que originou a data (o que é incrivelmente desconhecido por graande parte da população).
Poderia falar sobre como andam as relações de gênero e fazer um histórico.
Etc etc etc...

Mas o que vou deixar pra hoje é (além de levantar essas inquietações aí de cima) dizer que não vou dar parabéns, do jeito que se espera. O dia de hoje simboliza Luta. E essa luta ainda não vencemos - pelo contrário, uma das derrotas que estamos sofrendo se caracteriza no esquecimento da luta que o 8 de março representa. Infelizmente, a cultura machista distorceu até mesmo o significado desse dia e nos faz comemorar uma data sem sentido. Quero dizer, como homem, que a desigualdade de gênero prejudica a ambos os lados.

Muita luta para todos, homens e mulheres, por um Brasil menos opressor em todos os sentidos.
Viva e deixe viver.

quinta-feira, 1 de março de 2007

Mais sobre o Aquecimento Global

Vou é dizer mais sobre o aquecimento. Antes de começar, um comentário: num é verdade que já tá com ar de notícia velha?! É como se o problema tivesse até ido embora...

Mas nesse novo texto, quero falar mais sobre algumas coisas que só levantei no texto anterior, que era mais geral, só pra não deixar de dizer algo no momento, no calor da discussão, pra fazer refletir sob outro ponto de vista.

Dessa vez quero aprofundar algumas coisas. A primeira delas tem a ver com o germe do aquecimento global: Afinal, o que é o motor desses problemas ambientais como um todo? Qual é a força motriz que cadencia tudo isso?
É o capitalismo. Ou melhor, o modo de produção capitalista. Como o próprio termo sugere, é o modo de produzir o sistema capitalista. Foi o modelo capitalista o responsável por fazer em cinco séculos aquilo que a humanidade não fez em toda a sua existência. O interessante é que quando vem à tona qualquer discussão desse tipo, nunca se cogita questionar o sistema vigente. Tais discussões nunca salientam a raiz que nutre esses problemas.
No capitalismo, a mercadoria universal é o dinheiro. Parece bobagem, mas muita gente não pensa no dinheiro como uma mercadoria. E como qualquer mercadoria, ela possui um valor – representa o trabalho necessário para obtê-la. Agora, a partir daí, pense na nossa sociedade atual, onde uma pessoa pode acumular dinheiro irrestritamente, ao ponto de acumular por mês o equivalente ao sustento de dez, de cem, de mil pessoas? Esse dinheiro (essa mercadoria) excedente no mundo tem sua origem em algum lugar da natureza.
O que quero mostrar com isso é que esse excedente de mercadorias que o capitalismo possibilitou acumular é produzido às custas do estrangulamento do planeta. Os recursos naturais estão em escassez hoje devido às necessidades criadas por esse sistema, e não há outra saída para saciar tais necessidades, se não exaurindo as riquezas do planeta. O detalhe é que estamos consumindo muito além da cota que o planeta suporta.
Essa corrida no desfiladeiro está cada vez mais intensa. Na época da ECO 92, a idéia era reduzir em 5% na emissão de poluentes pros países industrializados. Porém o balanço apresentado em 2004 na Convenção de Mudanças Climáticas mostra que de 90 até 04 houve foi um aumento de 11%. Hehehehe. E na contrapartida do desespero, 80% das mercadorias consumidas no mundo estão concentradas em apenas 20% da população mundial atualmente. Isso ilustra um pouco do que eu disse no começo.

Até aqui o que pretendi foi mostrar macro-aspectos de como o capitalismo em que vivemos é responsável por tudo isso. Só que nesse quadro amplo aí, existem características peculiares, hábitos específicos que geram enormes prejuízos ao ecossistema. Gostaria de falar sobre um deles.

O hábito que quero destacar nesse texto é o da alimentação. Quero mostrar as implicações da alimentação e da produção de alimentos na sociedade capitalista. O hábito aparentemente inocente de se alimentar tem implicações diretas na poluição do planeta e efeito estufa.
Pra começar, a FAO revelou no ano passado que 18% (quase um quinto) das emissões dos gases que provocam o efeito estufa. Ou seja: polui mais do que Todo o setor de transporte (desde moto e carro até avião e barco).
Entre os 75% das emissões brasileiras, grande parte se concentra no rebanho bovino, pois tem o segundo maior rebanho bovino do mundo (FAO). Nosso rebanho bovino emite 10 Milhões de toneladas de metano por ano (isso corresponde a mais Trezentos Milhões de Toneladas de dióxido de carbono).

Isso sem contar a poluição impiedosa despejada nos rios, açudes e nascentes despejada diariamente, que são as fezes dos animais criados pro abate e pra produção de leite e de ovos. Tudo isso se converte na dieta de grande parte da população humana.

Vou parar por aqui, mas queria que a nossa reflexão individual, nossa consulta interior a respeito de tudo isso não parasse por aqui, não. O consumo e o não-consumo de alimentos é uma das formas de boicote e de protesto mais eficazes que já vi. É ininterrupta, é 24 horas por dia. Pense no poder que isso representa e a serviço de quem está sendo utilizado. Em nome da coerência.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Uma (outra) palavra sobre o Aquecimento Global

Tem saído na grande mídia sobre o aquecimento global. O mote agora é o Relatório da ONU, publicado na sexta, dia 2.
Antes de falar sobre o que tá sendo veiculado agora, já adianto a seguinte pergunta: Qual é a novidade? Parece até que não se sabia de nada disso.

No dia em que as notícias foram veículadas pelo mundo, a torre Eiffel, num sinal de protesto, apagou suas portentosas luzes... Mas só por 5minutos! hehehe..
Outras pessoas aderiram ao protesto. Apagaram por algum momento as luzes de suas casas naquela noite.
É a mesma coisa daquelas caminhadas pela paz', só quando o filho de algum grande empresário morre ou coisa do tipo. Eu fico me perguntando..: É uma caminhada pedindo paz. Mas eles estão pedindo paz pra quem? Quem é que eles esperam que vai atender esse pedido?

Voltando ao aquecimento global, uma das novidades é o fato de que agora (só agora) os cientistas perceberam: o agente principal das mudanças é a mão humana. A partir daí, surgem os encaminhamentos implícitos nas notícias: economize mais, racione mais, etc. O culpado é o ser humano.. se vc é ser humano, vc é o culpado....
Não quero que pareça que sou contra economizar e a favor de poluir. Quem me conhece sabe que eu me preocupo com minha conduta nesse sentido. Só que o que faltou nas reportagens foi justamente o mais importante (foi um lapso eles esquecerem só o mais importante).
Por que não aproveitaram o momento do relatório para dizerem que os EUA não assinaram até hoje o protocolo de Quioto, pela redução da emissão de poluentes? Por que não falaram que o padrão de vida e de consumo norteamericano que a mídia tanto procura reproduzir no Brasil é responsável pelo consumo de mais da metade da riqueza globalmente produzida? Por que não botar os grandes líderes do mercado automobilístico pra responder por que os carros híbridos não são vendidos?

Pra terminar e passar a bola pra você, cito a ministra Marina Silva, quando entrevistada acerca do relatório.
"O problema é que se os países em desenvolvimento, com todos seus problemas econômicos, resolverem os 20 por cento, e os desenvolvidos não resolverem os 80 por cento que têm que resolver, não adianta nada."


Ortegal

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Um mundo cheio de violência

Ouvi de alguém hoje que o mundo tá ruim de se viver. Cheio de violência, maldade e tudo aquilo que todo mundo já sabe repetir de cor.

Quando pensamos na violência do mundo, qual é a primeira imagem que nos vem à cabeça?

Não sou adivinho, mas posso começar com um palpite forte. Você não pensou em alguma violência de Sua autoria, pensou?

Num segundo palpite, não tão forte quanto o primeiro, posso acertar que o pensamento de muita gente relaciona violência com a imagem de alguma atitude que gere violência física. É claro que geralmente a violência física acarreta uma violência psíquica ou algo do tipo. Mas o que quis dizer é que não se pensou numa violência eminentemente não-física.

O que eu quero trazer com isso?
Queria trazer a reflexão sobre as violências que cometemos.
Se eu fosse querer dar conta do conceito ampliadíssimo de violência, esse blog não ia bastar. O que quero mesmo então pra hoje é chamar a reflexão pro tipo de violência existe numa relação entre ricos e pobres que seja, dessa vez, com o foco no rico.
Trocando em miúdos, é sobre a violência de classe social que quero saber. Ou será que a sequela sem fim, a ferida abissal e nunca cicatrizada que é a vida nas severas condições de degradação humana, vivida pela população pobre todo dia é fruto de que, se não for de uma enorme violência diária de classe?

E nem você que se esconde sob o manto da inérica, do híbrido do jargão 'classe média baixa' ou 'alta'... Ninguém escapa. Pelo menos da violência que é a indiferença, a apatia, do comodismo, não. Os cúmplices também são culpados.

Ortegal


quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

construir uns aos outros construindo uns com os outros


Quero começar.

Vou dar início a esse novo espaço, que é feito por mim, mas inteiramente dedicado a todos nós.

Eu pensei em várias coisas, vários temas e assuntos que poderiam inaugurar esse blog. Cheguei até a escolher umas coisas que, quando via, pensava: "isso vai dar um bom ponta pé inicial praquele blog que eu quero fazer." Mas aí quando eu chegava aqui, já não lembrava mais... Pensei também nuns nomes pro blog, mas na hora de fazer não tinha nenhum.. ou seja: vim com o cimento mas faltou o alicerce.


:: Então vo começar devagar e explicar a razão de ser desse espaço aqui ::


O cartadesmarcada tem a ver com informação.

Não quero usar aqui pra que seja um diário virtual das minhas frivolidades. Quem quiser saber delas, me procura pessoalmente.

A idéia de fazer um blog e atualizá-lo com informações é no intuito de dividir com você o que eu tenho, pois de uns anos pra cá venho absorvendo muita coisa que julgo boa, mas não tenho dividido como eu queria. Vejo também que muitos amigos estão entrando de cabeça em certas áreas do conhecimento que muito me interessam e não tenho tido da parte deles (de vocês) a partilha.

Meu compromisso maior é com a superação da besteirada que é meticulosamente plantada na cultura do nosso povo e serve para reproduzir a desigualdade e a podridão que impera hoje no mundo. Então aqui é um passo pra isso, pra cultura não massificada, pra cartas desmarcadas, praquilo que não está na grande mídia e, ao contrário, bate de frente com ela (aliás, já aproveito o ensejo pra deixar a dica: www.midiaindependente.org - odeia a mídia, torne-se a mídia). Portanto, quero deixar sempre um canal, uma porta, uma dica, ou qualquer outra que eu saiba. Quero me esgotar, me diluir em vocês, para que nos tornemos um só, um só movimento de transformação da sociedade pela informação.


Até logo.

Ortegal


 
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