sábado, 8 de novembro de 2008

Obama, Hamilton, e o mês da consciência negra

Algo precisava ser dito a respeito. Não poderia passar em branco aqui no Carta. Então que seja logo dito:

AÊÊÊ!!!! É NÓIS NEGÔÔ!!! QUATRO PÊÊÊ!!

Um mês muito importante para o povo descendente d´Àfrica. Conhecido como Mês da Consciência Negra, novembro carrega a marca de ter sido o mês em que ‘morreu’ Zumbi dos Palmares. Palmares era como um quadro que retratava pros escravos aquilo os trazia identidade: sua liberdade, sua cultura e seu povo de origem. Quilombo significa que é possível algo além da escravidão.
Carrego um quilombo dentro meu coração. Acho que todo preto minimamente ligado na sua história, suas raízes, também o carrega. A figura do quilombo representa o sonho por liberdade e a busca por identidade. Hoje não existe mais a escravidão de cem anos atrás – quer dizer, na verdade ela ainda existe, mas sobre isso conversamos em outra postagem. Entretanto, as correntes daquele tempo, os chicotes e os troncos foram substituídos por outros tipos de grilhões, e a luta de hoje é contra eles.

Quero dedicar essa postagem a Lewis Hamilton e Barack Hussein Obama. Quero saudar essas duas vitórias. Não que elas signifiquem revoluções ou que a situação do povo preto vai mudar, menos ainda pro Brasil. Mas que fique claro o tamanho das conquistas: Uma nação feita de brancos, na qual os negros só chegaram para servir, para morrer, em prol do conforto dos colonos que não tiveram lugar na Europa. Era a anulação de um povo pela existência de outro. E não foi à toa que, desde a independência norte americana, não tenha sido eleito um presidente negro.
Por semelhante modo, eis a vitória do primeiro piloto negro na Fórmula 1. Ao longo de toda a existência desse esporte, Nunca houve um piloto negro, nem que fosse o que perdesse sempre em último. Simplesmente acontecia alguma coisa que impedia o acesso dos corredores negros ao esporte. Acontece que o primeiro que conseguiu entrar foi campeão esse ano, sendo o mais jovem corredor da história a ser campeão!

Provavelmente a vitória desses negros aí não revolucionará a história. Nem tampouco a estrutura na qual estão inseridos o permitirá. Mas mesmo assim, deram alegria à Mãe África nesse mês da consciência negra. Fizeram valer o grande lema 4P!
Poder Para o Povo Preto!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Homenagens Póstumas

pros mortos sem protesto
flores em memória
aqui é seu minuto de silêncio
sua homenagem póstuma
Antes de mais nada, um minuto de silêncio. Um minuto pra cada uma seria muito? Trata-se de cento e onze vítimas, além das que foram omitidas. Parece demais fazer umas duas horas de silêncio? Pois a mídia brasileira o fez por 24 horas. Parece que nenhum jornal se lembrou, mas ontem se completaram 16 anos. Mas por que recordar um episódio lamentável se ele já se foi há 16 anos atrás?
Primeiro que, se nós esquecemos porque nos parece distante, ou porque no brasileiro a memória é curta pra essas coisas, eu posso garantir que ontem mais de uma centena de famílias choraram aquela desgraça como se tivesse sido ontem mesmo.

Segundo, para os corações menos condolentes, trata-se de um processo que não teve fim, a Justiça se ajoelhou no meio do caminho, fez uma nuvem de fumaça com mil outros crimes e escândalos, e saiu de cena desse caso. Mais de cem policiais foram indiciados e ninguém condenado a nada.
Aliás, (terceiro) teve um que foi, sim. O demônio tem nome e um pronome de tratamento: atende por Coronel Ubiratan. Aliás, o tal Ubiratan, que foi condenado a séculos de cadeia em razão das mortes, não pagou nenhum diazinho sequer. Ubiratan, aliás, deixou de atender pelo nome de ‘coronel’ – em 2002 passou a ser, o deputado Ubiratan, eleito pelo PTB (não se esqueçam nunca do partido), usando o ‘111’ como número de campanha!
Um último aliás nessa história é que o responsável por este massacre penitenciário mundialmente conhecido acabou provando do fruto que ele mesmo semeou. Foi morto a tiro, em sua própria casa, num bairro nobre de São Paulo, num crime que também não foi solucionado.
Dizem que depois do presídio o espaço deu lugar a um parque. Essa medida parecia indicar uma mudança de política: mais CEUs, menos FEBEMs, como li uma vez numa reportagem. Mas ninguém é assim tão bobo. A polícia continua matando como nunca, os presídios reluzem nos olhos de empreiteiros, reproduzindo-se a cem por um, e CEUs, ah... As CEUs dariam uma outra postagem em outra hora.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Agora é tarde (ou: a arte de tirar com concha aquilo que se dá com colher)

Vejo as eleições municipais. Melhor, como no DF não tem, vejo a sua áurea: adesivos nos carros migrantes, um anúncio ou outro, algo nos jornais e, principalmente, os alarmantes comerciais da Justiça Eleitoral.
Estratégias mil. Idéias bem boladas. Produção de alta qualidade. Vê-se que a Justiça Eleitoral, que o Governo Federal não poupou dinheiro – o nosso dinheiro chorado – pra produzir esses comerciais. E aquele da abelha no ouvido do homem?
Só tem um pequeno detalhe: será que foi pensado sobre o longo caminho a se trilhar entre os alertas bem bolados e a real escolha consciente do eleitorado dos municípios? (Ah.. pra que pensar nisso.. isso é bobagem)

Dinheiro investido em escolas? Debates públicos? Denúncia de candidatos com ficha suja? Cidadania? Isso não. Acertado é investir pesado em propagandas genéricas incentivando a votar e aterrorizar.

Vá lá... Vamos desmarcar... É claro que o compromisso do Governo não é com o voto consciente, conseqüente. O que importa é o voto. Fortalecer essa máquina que se convencionou chamar de democracia, fortalecer o próprio Governo em seu mandato, fingir estar realizando uma campanha pelo bem-votar. Dar com a colher daquilo que se tira a fundas conchas. Afinal, de que valem essas propagandas se as pessoas tem sequer acesso à educação de qualidade? De que adiantar dizer que o voto de um fulano tem valor, se ele mesmo é tratado como se não valesse nada? Nada além do direito de ser explorado – quando o tem. Agora é tarde.. aliás, missão cumprida.


sábado, 26 de julho de 2008

Todos contra todos na luta do transporte público

Infelizmente, quem eu mais queria que participasse dessa discussão não vai ler esse texto. Isso é triste e nos mostra o quanto temos de desafio pela frente. De qualquer jeito, esse é um assunto que interessa a todos. Todos estão no ringue da luta que apresento hoje.

Ontem eu estava numa lotação laranjinha. Como elas não passam perto da minha casa, quase nunca eu entro nelas, mas ontem eu só tinha essa opção. Depois de mim, entrou uma mulher que voltava do trabalho. Acomodou-se e perguntou pro motorista “vocês vão rodar amanhã?” a resposta foi seca, direta “não”. Uma outra chegou e perguntou a mesma coisa. A resposta foi a mesma, com certo tom de irritação. A senhora se lamentou, e o motora atalhou “cês pelo menos tão empregados, e a gente?”
Interessante essa observação dele. As lotações são conhecidas pelas peripécias: andam rápido e perigosamente, enfiam passageiros até no teto e vazando pelas janelas, ficam lerdos ou parados quando tá fraco de passageiro, passam só até onde é conveniente, e a pior delas: escrotizam com os idosos por terem passe livre. Eles são comissionados, é diferente dos ônibus. A lógica deles não é o serviço, é o lucro. Depois de ferrarem mil vezes com a vida de quem depende deles, eis o salário final: o olho da rua.
Ninguém se importa com esse exército de desempregados, de famílias com as contas comprometidas. Tá todo mundo cuidando do seu.
Um caso relacionado a esse é o dos ônibus. Não faz muito tempo que os ônibus fizeram uma paralisação com quase 100% de adesão entre eles (tem uma discussão interessante sobre isso nos comentários do post do aniversário do Manifesto). Todo mundo puto nas paradas e reclamando da paralisação e temendo a greve. Mas nesse dia de paralisação, uma frota de heróis salvou a pele dos trabalhadores. Quem foi? O exército de futuros desempregados: os motoristas de lotação. Heróis para os trabalhadores sem ônibus, mas vilões para os rodoviários.
Quatro equipes e um mesmo ringue: Lotações, Sociedade, e Rodoviários, todos contra todos. Mas pelo que se vê por aqui, será que se trata de rivais ou de aliados?



***
No dia das paralisações um carteiro ficou puto: não conseguiu ir pro trabalho porque não tinha transporte pra ele. Ele ficou puto, mas o rodoviário ficou feliz porque conseguiu receber mixarias do patrão. Mas esse mês foi a vez do rodoviário: as mixarias não adiantaram muita coisa, pois tá pagando as contas do mês tudo mais caro. As contas desse mês atrasaram, mas não foi por culpa dele, foi do carteiro que não paralizou as entregas por quase um mês inteiro. Rodoviário puto, carteiro feliz – foi sua vez de ganhar mixarias.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

O segundo aniversário: A data de uma Categoria

...E que categoria!

Vamo lá. Categoricamente caracterizada pelo pé no barro e mão na massa, com o ônus e o bônus disso aí. O barro é real e metafórico também - pode ter os pés em um ou em ambos. A 'massa' com que trabalha pode ser também uma verdadeira massa de desfiliados, de desassistidos de tudo. E não é fácil, não. Se é difícil lidar com os problemas da própria vida, imagine-se lidando diariamente com os problemas de uma multidão, dos integrantes de um dos maiores movimentos fundados no capitalismo: o MST - Movimento dos Sem Tudo.

Em suas práticas cotidianas, pode tanto reproduzir a situação atual, quanto transformá-la, pode inclusive fazer as duas coisas ao mesmo tempo! Uma medalha a quem lida com uma tarefa tão complicada, que pode tanto atingir seus objetivos quanto o contrário. Ainda em tempo de formação profissional, me deparei um dia com o seguinte pensamento: "Caramba.. eu to entrando num esquema quem tem 99% de chance de trabalhar só com pedreira". E o pior é que tem gente (como eu) que gosta disso! Olhando nos olhos do olho do furacão. Dizia o Amarante 'Eu gosto é do estrago'. Contraditória é a realidade e a vida a cada instante.

Não me pergunte a data de nascimento, pois é como esse montão de vidas, de vasos ruins de se quebrar, que contra a existência, com insistência, tiveram que nascer duas vezes pra nascer (e pensar que o nosso compadre Lula é um desses). Uma coisa é fato: foi no dia 15 de Maio que se estabeleceu a data comemorativa, a data de aniversário. E a festa desse ano tem por lema: Serviço Social na Luta Sempre.

Com mais de um mês de atraso, meus parabéns pra mim, e pra todo esse povo sofredor que são os e as assistentes sociais desse país. Pocos pero Locos! Ideal no horizonte, pé no chão, passo pra frente, entre mortos e feridos, me orgulho de fazer parte da categoria profissional que tem em seu Código de Ética Profissional, entre seus Princípios éticos Fundamentais, a Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação ou exploração de classe, etinia e gênero; bem como Defesa do aprofundamento da democracia, entendida como socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida. [E isso deixando outros de fora.]

Viva ao Serviço Social, Viva aos Assistentes Sociais! Muita Luta pra nós, pra celebrar o nosso aniversário!


* * * * *
[Um a mais, que pensei esses dias. De repente dá uma idéia a mais da profissão. É como um cachorro pequeno, mas que late alto e ataca e que nunca dá descanso!]

- Na área da Saúde, a briga é com os médicos da equipe (isso quando o que existe pode ser chamado de equipe), que ficam lá no trono, fazendo quase nada além de receitar remédios e exames clínicos. No aspecto macro, o Serviço Social chegou principalmente com a Reforma Sanitária, pra viabilizar o reconhecimento de que saúde não é só doença, não se restringe ao corpo da pessoa, não é só remédio, e muito menos é só medicina. É, na verdade, socialmente determinada, por determinantes mil na vida e no meio ambiente em que vive uma pessoa.

- No Judiciário a briga foi, sobretudo, com os juízes e uma parte dos profissionais de Direito. Não foi fácil mostrar que não é só decretar setença a alguém e dane-se o resto. Mostrar que um juiz não vai promover justiça em boa parte dos casos, pois ele não tem condições de conhecer aquela realidade e, ainda que conheça em alguns casos, não vai ser capaz de dizer o que é justo ou injusto. É uma queda de braço dura, mas ao longo do tempo passou-se a admitir mais que, se uma mãe solteira de 3filhos, chefe de família e desempregada e que foi flagrada furtando som de carro, se ela alegar que era pra pôr comida no prato dos filhos, fica difícil pro juizão dizer o que é justo e injusto - tanto pra ela, quanto pros filhos, no caso de ela ser presa... É hehehe.. é nessas horas que apelam contrariadamente pra nóis!..

E por aí vai em outras áreas.. A formulação e gestão de políticas públicas é outro exemplo, mas fica outra ocasião.








sábado, 31 de maio de 2008

Dois aniversários atrasados

Vamos lá. Ressuscitando o Carta Desmarcada com comemorações. Essa postagem se divide em duas, já que são dois aniversários diferentes. Vou começar com um deles, e o outro só digo na próxima postagem. Espero que gostem.
O primeiro deles é o aniversário de um... Eu poderia dizer que é de um livro, mas considero que possa ser mais que isso. Poderia dizer que é um manifesto, mas também pode ser mais. Na verdade, o que dizer de uma obra como a que foi e continua sendo Manifesto Comunista?
O Manifesto completou 160 anos agora em 2008. Acho que o clima é de festa. Afinal, trata-se de uma obra que vem de 1848 predizendo, vem acertando acerca dos rumos de uma sociedade aí, que por coincidência é a sociedade em que vivemos hoje. Analisar a atualidade daquelas palavras é algo muito interessante e impressionante, mas que não é o que vou fazer aqui. Nem acho também o momento pra falar das bases comunistas lançadas com o Manifesto. Tudo isso é muito bom, muito interessante, mas vai ter que ficar pra outra ocasião.
O que vou destacar aqui é aquilo que penso ser um dos principais pontos do Manifesto, que é (tão óbvio quanto desapercebido) bradar ao mundo o que é o comunismo e o que pensam os comunistas acerca das coisas que vêem e das coisas que buscam. É um livro que traz em si valor intrínseco, por mostrar do que se trata a sociedade que “converteu o médico, o jurista, o padre, o poeta, o sábio em assalariados ao seu serviço”, que reduziu a enorme e rica diversidade do trabalho humano ao pó das relações de troca, onde converte-se em objetos de troca, em mercadorias.
Qualquer semelhança com o que foi denunciado há 160 anos atrás e a situação atual não é por acaso. Talvez não tenha exemplo melhor do que o seu próprio dilema aí em relação a sua vida profissional (presente ou futura).
Teve uma festa de aniversário e eu fui, esse mês, no Teatro dos Bancários. A efusão de reflexões sobre a atualidade desse pequeno-grande texto foi demais. Educação, sociedade, política, psicanálise... teve de tudo. Um chamado à união do proletariado do mundo inteiro, global como tinha que ser, tal como era o prognóstico de expansão capitalista, ainda ecoa. Um livro leve, de leitura rápida, muito rico, sortido, e doses de ironia são algumas de suas características mais convidativas. Acho que, de presente pelo aniversário de 160 anos, todo mundo deveria ler de novo o Manifesto do Comunista. Meus parabéns.

- Pra quem tiver interesse, no espaço de comentários a gente pode discutir o que vier sobre o livro. Esse texto que eu fiz foi mais um lembrete, um convite.




Foto do evento no Teatro dos Bancários
160 anos do Manifesto Comunista

quarta-feira, 19 de março de 2008

...E o obrigado a quem participou!

Se foi na organização ou se foi com a presença. Se foi com ajuda pontual ou se apenas avisou pra alguém que foi. Muito Obrigado.
Quem não foi, perdeu.


sexta-feira, 14 de março de 2008

Palestra sobre Vegetarianismo e Saúde, na UnB

Vejam aí o cartaz e divulguem a quem possa interessar! Esse evento é feito de coração.

Abrços, amigos.




Qualquer coisa, só ligar ou mandar email, ou tb pelo blog mesmo.

sábado, 8 de março de 2008

Dia da Mulher

"Lá no super maia tão distribuindo rosas. Cê não vai pegar uma pra dar pra Kamilla, não?"
Acho que não. Isso daí foi uma pergunta que me fizeram hoje, no chamado Dia Internacional da Mulher. Não queria escrever muito sobre isso, até porque queria dar mais vida pro texto anterior. Mas não queria deixar passar batido um dia como esse: 1 porque é o dia escolhido pra dar vista especial pras mulheres, e 2 porque o dia da mulher é um dia em que acontece um fenômeno tb muito especial.

O que acontece e merece destaque aqui no Carta é justamente o seguinte: O dia da mulher foi criado numa conotação completamente diferente da atual. Mulheres queimadas vivas morreram na luta pelo direito de serem tratadas com igual consideração.
Morreram e ganharam um dia no ano para que essa Luta fosse lembrada pra sempre. Queimaram vivas até a morte, na luta para que as mulheres não fossem tradas de uma forma... da forma como... Da forma como são tratadas justamente no Dia Internacional da Mulher nos dias de hoje!
A luta foi pra que não se naturalizasse que a mulher é esse bichinho, esse bonequinho sentimental, esse poodlezinho que só tem que ser dengado, adulado, etc. E o que acontece hoje, em pleno dia da mulher? frases porpurinadas, rosas de graça, e um indigesto 'parabéns'. Parabéns por dar conta da tripla jornada!? Parabéns por aceitar e suportar a opressão e desigualdade resignadamente?

O que queria com o post de hoje era isso. Era lembrar e situar a história de luta, de fogo e sangue que o dia de hoje representa. Se temos que celebrar alguma coisa hoje, celebremos a LUTA.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Isto é o quê!?

Quem vai pelas ruas do Distrito Federal onde as paradas de ônibus são de vidro já aprendeu. “Isto é comida” “Isto é entrenimento” “Isto sim, é moda”. São esses os dizeres de uma propraganda espalhada por todos os lados. Tá certo, é uma arte bem bonita, colorida, curiosa – e leve: Só a arte, o slogan, e no pé do cartaz diz “Isto é nova york” e o endereço de um site. Então o problema não é a arte, nem o conteúdo do cartaz. A questão aqui e que passa desapercebida, mas não deixa de causar o seu efeito é a mensagem quem vem neles.
Para apresentar uma mensagem simplificada, direta, de rápida assimilação do público-alvo (alvo mesmo nesse caso), apela-se pra tudo. No caso dessas propagandas aí, apelou-se para definições. O problema de definir o que é comida, o que é entretenimento e moda é justamente de por em questão o que não é. Trocando em miúdos, o que vai pensar o camarada trabalhador, que pega seu ônibus seis da manhã, que comeu cuscuz de manhã e ajeitou sua marmita de arroz com feijão pra logo mais, e se depara com desenhos de t-bone, hamburger, e roast beef? “Isto é comida. Visite NYC e conheça comida finalmente, seu analfabeto gastronômico.”
Pior do que o da alimentação é o que fala de moda. “Isto sim, é moda” Isto sim!? Pra mim, é como se o cartaz olhasse pra cada um dos cidadãos que utilizam o transporte coletivo (os baús) e estão ali na parada de ônibus e fizesse uma cara de nojo, como de quem diz “que merda de vestimenta é essa de vocês? Vocês acham que estão bonitos? Isto aqui, sim, ó, é moda de verdade.” Isto sendo que a arte é tipo uma planta que tem como flores e frutos sapatos de salto alto, bolsas, óculos, chapéus...
Pra mim, são muito mais do que cartazes que propagam as virtudes de Nova Iorque. São mais uma invasão sutil, porém aguda, do padrão norte-americano na cultura brasileira. Aqui nós temos uma culinária histórica, deliciosa, e na maioria das vezes muito mais nutritiva; formas de entretenimento mais saudáveis, mais alegres, mais humanas e mais acessíveis do que aquele show de luzes e tecnologias frias e de pouca interação; e a nossa moda é muito mais.. é muito... é, se bem que a moda... hehehe brincadeira.


Brasil e América Latina como um todo são riqueza pura nesses aspectos e todos os outros. Quem sabe abrir os olhos pra isso pode confirmar. Mas muita gente já aprendeu com o cartaz muito antes dele existir e vive aqui como se estivesse numa bolha nova-iorquina.
 
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