terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Que fique claro o jogo sujo

A política é assim. Ela é cheia de jogos, da malabarismos, de artifícios... fora o roubo, o peculato, o suborno, a mentira... enfim, a corrupção em geral. Muita gente poderia ler essa postagem e pensar que não é novidade nenhuma, mas eu estava pensando nisso e achei importante, achei que era meu papel deixar isso claro, mesmo que por meio desse blogue, que provavelmente não é acessado por aqueles que menos informação e conhecimento possuem. O que quero trazer aqui é um jogo sujo conhecido, utilizado recentemente por dois políticos.
Primeiro Arruda, depois Leonardo Prudente. Ambos lutaram para permanecer no partido. Afinal, quem não deve, não teme. E foi essa a imagem que tentaram passar. Não iriam sair, não iriam e pronto. Fizeram defesa por escrito, pediram tempo, tiveram tempo, e inclusive foram na Justiça pedir ainda mais tempo. Pra mim é nítido que esse tempo só servia para tentar abafar o caso e tentar se safar, mas eles disseram que era para elaborarem suas defesas.
Só que o tempo dessa vez não ajudou. A explosiva combinação de vídeos bombásticos e contínua mobilização social tornaram o clima insuportável para eles. O remédio? Plano B, o famoso ‘pede pra sair’. “não.. não foi a situação insustentável, ,não... eu saí pra preservar os colegas de partido”. Colegas? Que colegas? Até ontem Durval era colega de todos e todos eram colegas de Durval, mas hoje ele passou para um crápula. Colegas? De partido!? Ora, nessa política aí não existem colegas. E como é que se faz para preservar um partido que te chuta o traseiro pra fora?

Arruda pediu tempo, depois se apressou em sair. Prudente entregou sua defesa, mas mandou depois um fax (?) escrito a mão pedindo também seu arrego. Que fique claro que o ditado permanece verdadeiro. Quem não deve, não teme. Que fique claro que quem fosse acusado erroneamente e tivesse uma vida idônea, sairia fortalecido de uma injúria tão pesada quanto essa, se injúria o fosse.

Cá entre nós, aquele diálogo entre Durval e o governador é a maior evidência de todas pra mim. “Quando você for divulgar, me avisa antes, que é pra eu sumir do país ou dar um tiro na cabeça ou matar você” (mais ou menos isso). As evidências são manipuláveis, fatos podem ser ocultados, mas um diálogo desse aí revela a profundidade da coisa a partir da dimensão da alma humana atormentada.

Falando em alma, outra situação que pra mim é gravíssima, mas a grande mídia não deu importância, foi aquela ocasião da oração. Todo mundo ficou boquiaberto com a cena, mas não é da oração que estou falando. É sobre o pós oração: todo mundo saindo, cada um sabendo de si, e aí o Prudente, quase como que olhando pra câmera , diz “que paulada!”, com um sorriso flagrante. Que paulada...


Quero desejar a todo mundo que lê o Carta um ano novo cheio de paz, esperança e perseverança. Um abraço!

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Um desafio à pedagogia do movimento

Somos humanos. E uma das maiores marcas do que é ser humano é a aprendizagem. Talvez venha daí o meu fascínio pela educação. Ao contrário dos demais animais, nós nascemos completamente ignorantes e incapazes, mas nos tornamos conscientes e capazes por meio da aprendizagem. O ser humano é, por excelência, o animal da aprendizagem. Mas a pergunta que faço é: o que isso nos provoca, orgulho ou vergonha?

A nossa sociedade dicotomizou a relação de aprendizagem. Existem aqueles que ensinam e existem aqueles que aprendem. E como já dizia o mestre Foucault, e antes dele o Mestre Jesus, conhecimento é poder. E isso não se pode esquecer, pois, se conhecimento é poder, e os humanos adoram poder, então tem muito mais coisa do que aparenta essa coisa de aprendizagem.

Estou dizendo isso pra mostrar que é essa divisão entre o que ensina e o que aprende não é casual. Mas essa relação revela, ainda, um enorme contrasenso da humanidade: se a grande marca do ser humano é aprender, por que então o que todos querem é ensinar?


* * *

O movimento contra a corrupção é pedagógico. Ele tem ensinado a sociedade de muitas maneiras, em muitos aspectos, aos mais variados segmentos de pessoas. Mas tem um segmento muito importante da sociedade que pode perder o bonde do aprendizado. Falo justamente do grupo maior, o mais presente e responsável pela vida desse movimento. Falo do grupo que poderia chamar de grupo dos movimentos sociais. O que chamo de movimentos sociais aqui compreende partidos políticos, grupos autônomos de luta, de trabalhadores, estudantes, sindicatos, grupos de etnia, gênero, ambientalistas, socialistas, democratas, anarquistas, etc. Os grupos que já estão acostumados a lutar há mais tempo. Boa parte desses grupos está hoje unida num grande movimento social, que é esse movimento contra a corrupção, cuja luta se dá no DF, mas possui repercussão nacional.

E é muito bonito ver partidos rivais construindo em conjunto. Grupos que sempre atuaram em frentes separadas hoje estão juntos em prol de uma causa só. E o momento maior disso tudo foi o tempo de ocupação da Casa do Povo, vulgo Câmara Legislativa do DF. É que ali se dividia mais do que momentos de luta. Dividia-se ali o espaço, a morada. Além disso, havia assembléias diárias, onde grupos que historicamente são separados estavam deliberando em conjunto. O espaço era um só, a comida era uma, a sujeira e limpeza concerniam a todos, e a força daquilo dependia de todos ali, pois todos sabiam que o seu grupo sozinho não era forte o bastante pra sustentar a ocupação.

O movimento ensinou que esses grupos, que são separados e às vezes rivais, são mais unidos do que se acreditava. O movimento ensinou que os grupos que lutam ainda são poucos para vencerem sozinhos, e que só a união dessas forças é que pode fazer vislumbrar no horizonte a vitória. O movimento ensinou que dividimos muita coisa, o movimento ensinou que é preciso humildade para ouvir o outro, sendo que o outro é muitas vezes um antigo rival. O movimento ensinou a pôr em questão se nós somos mesmo rivais.

O movimento ensinou? Bom, ele ao menos tentou. Ele foi, e tem sido, mais do que claro nos seus ensinamentos. É o movimento que tanto ensinou aos demais, ensinando lições a si mesmo. Mas temos aí um problema. Para a aprendizagem, não bastam apenas as grandes lições, por maiores que sejam. É um problema que se remete ao que foi discutido no início do texto: Será que o movimento que a tanta gente ensinou está realmente disposto a aprender consigo mesmo?

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O Movimento contra a corrupção é pedagógico

É um movimento que exige a punição de todos os corruptos que foram evidenciados recentemente. Esse movimento, que se estabeleceu ao longo dessas mais de duas semanas desde o estouro do mensalão do democratas, do arrudoduto, ou do que quer que se chame, é um movimento que vem buscando um objetivo bem claro, mas, de lambuja, está atingindo um outro: a educação cidadã e o ensino prático acerca do que é fazer valer um Estado Democrático de Direito.
Se isso não está claro de imediato, já dou logo um exemplo quentinho, o de hoje. Manifestantes, aos quais a mídia insiste em chamar de ‘estudantes’, numa clara estratégia de diminuir a representatividade de um movimento plural e popular, foram hoje assistir à plenária na Câmara. Como o analfabetismo democrático impera neste DF, o que mais aconteceria? Foram barrados na porta. O vídeo da tv de Paulo Octávio quis mascarar a batalha e fazer parecer instantâneo, mas não foi bem assim. A mídia é uma aluna teimosa, mas quando aprender, beberá da amarga vergonha de se posicionar em desfavor do próprio povo. A situação era a seguinte: queriam impedir o povo de entrar na própria casa para ver de perto o que estaria acontecendo por lá. Qual foi a lição ensinada? Aquela câmara ali é casa do povo por direito e o povo não pode ser impedido. E o exercício de fixação? Entrou-se na marra. Botados pra fora? entrou-se de novo. Pra fora na força do braço? pra dentro de novo, na força do saber e o do poder que é do povo que luta.
O povo em movimento foi pras ruas quando foi humilhado demais. O batalhão de um governo fascista tentou nos tolher o direito. Ora, a rua é do povo, e às ruas o povo não renunciará! Isso ficou ensinado à maldita PM (isentas as exceções), que hoje nos teme quando viu que a eles nós não temeremos – e depois que aprendeu a lição. A lição de que é o povo o dono de tudo, que das ruas não arredaremos, mas que faça-se o que se exige por parte do povo, e o primeiro pilar dessa máfia já caiu parcial.mente. O povo deu corpo ao seu grito por justiça, e o corrupto pediu pra sair.

















E ainda são muitas as outras lições. Pessoas que nunca se sentiram sua voz ecoar puderam fazê-lo nos atos nascidos na praça Zumbi no Conic, redimensionados na Rodoviária, e eclodidos nas ruas monumentais do DF e nos edifícios do poder (e da corrupção). Foram pessoas que aprenderam um pouco mais sobre elas mesmas, e o poder que elas têm dentro delas. E tem muitas outras que estamos a ensinar (e a aprender), mas eu quero que chegue logo o dia em que a lição final será aprendida por todos – e alguns aprenderão amargamente, aqueles que cairão de seus mandatos erigidos com a podridão da corrupção, que a todos nós ofendeu.

sábado, 12 de dezembro de 2009

O Fora Arruda visto de dentro: algumas nuances

Quem não se movimenta não percebe as correntes que o prendem, é uma brilhante assertiva de Rosa Luxemburgo. Um tanto desconhecida pela maioria, é um pensamento acertado, razoavelmente difundido e compartilhado entre os movimentos sociais de luta por um mundo mais justo ou mais ético, ou um mundo melhor, chame como quiser. Eu sempre lembro dessa frase quando vejo uma luta acontecendo. Uma coisa que me chama atenção é pensar em por que as pessoas que estão tão perto conseguem permanecer tão distantes.
No ato em que o exército policial tentou barrar o movimento mas acabou lhe impulsionando, houve vários momentos em que paramos o trânsito ou transitamos entre os carros em movimento. É impressionante como as pessoas atravessavam o ato como se não vissem nada. Alguns, inclusive, nem para o lado olhavam. Sempre em frente, sempre perseguindo o alvo. 'Que alvo? Bom, o alvo... o alvo eu não sei, até mesmo porque estou ocupado demais perseguindo o meu alvo pra pensar nessa coisa de alvo'.

Alguns buzinavam, mas era minoria. A maioria passava indiferente. É interessante pensar no porque de as pessoas estarem indiferentes. Há poucas semanas atrás, o movimento era a greve da minha categoria. Estivemos naquele mesmo lugar, pleiteando uma reestruturação da carreira. E as pessoas seguiam indiferentes. No máximo olhavam, aqueles que viam em nós um tipo de entretenimento, até pra quebrar a rotina enfadonha do trabalho ou do percurso. Tudo bem, não quero fingir aqui que as categorias são unidas no mundo do trabalho. Mas o que acontece hoje em Brasília é algo que atravessa a todos. O governo governa o DF, e de todos roubou. Contra todos praticou vários crimes, os que sabemos e os que não sabemos, os que são tipificados crimes e os que não são, como o crime de debochar da nossa cara dizendo que é inocente, enquanto no fundo no fundo, pensa “essa população do DF tem a cabeça tão fraca que além de aceitar as desculpas, esquecerá rapidinho”.
Mas a pergunta que me faço é: Se contra todos praticou vários crimes, como é que as pessoas conseguem permanecer tão indiferentes assim? A grande nuance é passar por pessoas em igual situação de ultraje, e ver as caras de estranheza, ou de impressionadas, como se estivessem vendo um grupo de seres de outro planeta. “Não é comigo, é a frase que extraio de tais expressões”.
Na carreata de hoje, uma picape pampa de loja de vidros passou por mim, e o motorista desacelerou, e atravessou a mulher do banco de carona para me dizer "tirar um ladrão pra depois vocês entrarem lá e roubarem também!?" Quem dera o caminho para o povo alcançar o poder fosse rápido assim...

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Mafiosos no Poder – Série Arruda e corruptores

Esses dias eu dispus de pouco tempo pra gastar por aqui. É que esses tempos são tempos de ruas, e é por isso que as lutas se deram nas ruas e não na internet. Sem querer desmerecer a ferramenta importante que a internet tem sido nessas lutas, mas um dos mais graves erros do cidadão de hoje é transformar a net, que é uma ferramenta de luta, na própria luta em si.

Mas sem mais delongas, dou início à série sobre a corrupção no DF. Chamo de série porque é a isso que irei me dedicar a escrever nos próximos dias. E como o tempo tem sido escasso e as voltas do mundo parecem encurtar a cada dia, eu não vou querer gastar tempo com textos com Início, Meio e Fim. Esse aqui é o início. O meio é tudo aquilo que vem a partir de agora. E o fim, ah, o fim... o fim a Deus pertence – mas Ele que bobo não é já tratou de avisar que o fim que você deseja do céu não cairá. E se é assim, mãos no arado.

Um último aviso. Isso aqui não é série bonitinha igual da Globo, não. Então, apesar de ser série, não necessariamente tem ordem ou lógica, por mais estranho que isso soe.


Faroeste Calango


Já vou logo avisando a você: O DF virou uma terra sem lei. Melhor, um faroeste, onde mandam pistolões e o restante se borra ou leva chumbo. Então, manifestantes munidos de vergonha na cara e consciência ético-política se viram em guerra contra uma frota militar de cavalos, cachorros e o mais temível dos animais, o ser humano. O humano é temível como temíveis fomos nas ruas contra a corrupção que esfregaram na nossa cara. O humano é temível também quando não reconhece no outro o seu semelhante, e o massacra com tiros e cassetetes. Mas eu vou te deixar animado: eu provei e são de borracha. E vai ser preciso mais para frear a força da nossa insurreição. Já a manada de cavalos estava calçada com ferro mesmo. Porém, ao contrário do que imaginam, isso só nos enche de motivos para lutarmos com ímpeto e mais ímpeto. Os que achavam que as cavalgadas nos iriam desanimar acordaram debaixo de chuva de ferraduras sobre as próprias cabeças.

Na terra do faroeste, polícia bate em criança num ato pacífico, e adolescente agora apanha de professora em vez de aprender lição de cidadania. No faroeste, o bandido que aumentou mil por cento o seu patrimônio é o mocinho, e os que foram roubados, lesados por essa sujeira de cortar a carne, não podem gritar coletivamente a sua indignação, sem ter que levar pancada. A terra do faroeste enfiou a ditadura militar num fundo bolso.

E na terra do faroeste calango, me avisam para que eu tire os dizeres do inconformismo estampados no carro, alertando que levarei multa ou que as chefias irão me punir. Ora! Pro inferno com aviso de merda! Não vou pagar simpatia pra ninguém! E se vier de gracinha, já vou avisando: eu vou dar enxaqueca e trabalho. E sozinho eu não tô. Nem eu e nem a companheirada que foi presa, e nem a que foi "só" machucada, e nem as crianças. Companhia uns pros outros, na luta e até a vitória!

 
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