Esses dias eu dispus de pouco tempo pra gastar por aqui. É que esses tempos são tempos de ruas, e é por isso que as lutas se deram nas ruas e não na internet. Sem querer desmerecer a ferramenta importante que a internet tem sido nessas lutas, mas um dos mais graves erros do cidadão de hoje é transformar a net, que é uma ferramenta de luta, na própria luta em si.
Mas sem mais delongas, dou início à série sobre a corrupção no DF. Chamo de série porque é a isso que irei me dedicar a escrever nos próximos dias. E como o tempo tem sido escasso e as voltas do mundo parecem encurtar a cada dia, eu não vou querer gastar tempo com textos com Início, Meio e Fim. Esse aqui é o início. O meio é tudo aquilo que vem a partir de agora. E o fim, ah, o fim... o fim a Deus pertence – mas Ele que bobo não é já tratou de avisar que o fim que você deseja do céu não cairá. E se é assim, mãos no arado.
Um último aviso. Isso aqui não é série bonitinha igual da Globo, não. Então, apesar de ser série, não necessariamente tem ordem ou lógica, por mais estranho que isso soe.
Faroeste Calango
Já vou logo avisando a você: O DF virou uma terra sem lei. Melhor, um faroeste, onde mandam pistolões e o restante se borra ou leva chumbo. Então, manifestantes munidos de vergonha na cara e consciência ético-política se viram em guerra contra uma frota militar de cavalos, cachorros e o mais temível dos animais, o ser humano. O humano é temível como temíveis fomos nas ruas contra a corrupção que esfregaram na nossa cara. O humano é temível também quando não reconhece no outro o seu semelhante, e o massacra com tiros e cassetetes. Mas eu vou te deixar animado: eu provei e são de borracha. E vai ser preciso mais para frear a força da nossa insurreição. Já a manada de cavalos estava calçada com ferro mesmo. Porém, ao contrário do que imaginam, isso só nos enche de motivos para lutarmos com ímpeto e mais ímpeto. Os que achavam que as cavalgadas nos iriam desanimar acordaram debaixo de chuva de ferraduras sobre as próprias cabeças.
Na terra do faroeste, polícia bate em criança num ato pacífico, e adolescente agora apanha de professora em vez de aprender lição de cidadania. No faroeste, o bandido que aumentou mil por cento o seu patrimônio é o mocinho, e os que foram roubados, lesados por essa sujeira de cortar a carne, não podem gritar coletivamente a sua indignação, sem ter que levar pancada. A terra do faroeste enfiou a ditadura militar num fundo bolso.
E na terra do faroeste calango, me avisam para que eu tire os dizeres do inconformismo estampados no carro, alertando que levarei multa ou que as chefias irão me punir. Ora! Pro inferno com aviso de merda! Não vou pagar simpatia pra ninguém! E se vier de gracinha, já vou avisando: eu vou dar enxaqueca e trabalho. E sozinho eu não tô. Nem eu e nem a companheirada que foi presa, e nem a que foi "só" machucada, e nem as crianças. Companhia uns pros outros, na luta e até a vitória!
4 comentários:
Léo,
Li seu post e adorei e confirmo suas palavras: estar ali, em frente ao buriti na quarta, levou minha indignação a um nível urgente, que exige movimento e luta para diminuir.
Lembro de um documentário que assisti sobre a ditadura, não me lembro do nome: "tempo de cada um", "tempo de resistência", em que um militante diz que, apesar do risco constante de morte e violência, aqueles foram os melhores tempos que ele viveu porque ele realizou uma doação absoluta ao outro e à coletividade.
Fiquei pensando nos versos do Neruda: "E foi naquela época que/a poesia chegou até mim./Não sei de onde veio,/ do inverno ou do rio./Não sei quando ou como./Não eram vozes, nem palavras/nem silêncio, mas da rua fui chamado abruptamente/pelos braços da noite./Entre tiros violentos/ou um retorno solitário/lá estava eu, sem rosto/e ela me encontrou." Pablo Neruda
Um abraço, te vejo em janeiro,
Jana.
Meu deus, que coisa mais triste. Só consigo ficar com vergonha por pertencer à categoria de ser humano. Quero cavar um buraco e enfiar minha cabeça.
Triste né Marina...
Mas eu vou tentar te dar mais esperança: tinha gente abdicando de um monte de coisa importante pra fazer a luta e a denúncia contra toda essa imundice que se estabeleceu na Câmara, lutas e denúncias estendidas agora à covardia e fascismo da PM.
Gostei muito do poema, Jana, e se não me engano, já vi outras coisas que eram mesmo do Neruda que são inspiradoras para a luta.
Uma música que me veio a cabeça também é aquela Viola Enluarada, que é explicitamente sobre a luta e o amor.
nos vemos em janeiro.
beijos
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