sexta-feira, 5 de junho de 2009

Setor Noroeste: Não é ecológico. E está AMALDIÇOADO

Saíram ontem especulações sobre o valor dos apartamentos do chamado Setor Noroeste. É claro que os valores não eram mais do que uma piada. O problema é que os barões já não sabem mais identificar uma piada quando estão diante de uma – quanto mais seriam capazes de rir, caso vissem uma piada! Capacidades à parte, eis os valores estimados (sem falar de especulados): oito mil reais o metro², e – paralisem – dois milhões de reais um apartamento. Não é fantasia ou exagero. E isso é só o começo... não há limites para a avidez dos adoradores de Mamom.

Não é fácil sustentar uma charlatanice como essa. Dois milhões por um quadrado para chamar de ‘casa’. Então vêm as tentativas, ‘é a localização’, ‘é o luxo e o conforto’, ‘é a proposta de bairro ecológico’, ‘é o status’. Dentre essas e quaisquer outras justificativas para esse valor astronômico (sem querer ofender aos que gostam de astronomia, que é uma ciência maravilhosa, profunda e instigante... incomparável com a futilidade e a superficialidade do que está em questão aqui), acredito que a única que justifica de fato os valores é a questão do status. E hoje se faz de tudo por status, se vende o corpo por status, se vende a alma por status, se vendem os sonhos por status, e se compra um apartamento por um milhão, por dois milhões, simplesmente e fatalmente por status.

Mas não é de status que quero falar. Eu quero falar é das duas aviltantes justificativas, que são tão cínicas que me provocam raiva, mas elas não me farão sair do sério.
Os arautos do inferno moderno bradam a quatro ventos que esse será um bairro ecológico. E ainda possuem a cara de pau de dizer que esse será “o primeiro bairro ecológico do Brasil”! É preciso ser muito trouxa pra acreditar nessa piada de mau gosto. Vamos lá: por que será considerado um bairro ecológico? Porque vai ter coleta seletiva, uma tentativa de aproveitamento da água da chuva, e algo de energia solar. Faça-me rir! Coleta seletiva? Mas como coletar o seleto lixo da burguesia de Brasília, avaliado como um dos lixos mais ricos do país? Vale dizer que a comida, largamente desperdiçada em casa de barão, estraga rápido e não vai satisfazer as barrigas dos espoliados catadores do lixão. É importante lembrar que comida estragada na farta geladeira do rico e na sua transbordante dispensa não é imprópria só pra você, mas para o pobre também, apesar da insistência que rico tem em doar (desovar) coisa estragada para pessoas pobres.

Bairro sustentável? Ecológico? Por que não mencionar as garagens enormes para satisfazer os fetiches de uma população que tem mais de 1,5 carro por pessoa? Não vão mencionar o impacto disso? Pior do que a política de destinar terrenos para pessoas pobres sem dar nenhuma estrutura para esse aumento populacional (um mote no governo Roriz) é destinar terreno pra barão, justamente porque produzem muito lixo e entopem as vias com seus carros, cada um no seu, ainda que fosse fácil um dar carona pro outro. Além disso, os ricos são espaçosos, cheios de exigência, e coisas que fazem com que um espaço onde cabem 100 ricos caiba, por baixo, 500 pobres.

Ecológico nada! Esse “bairro” (porque de bairro mesmo não tem nada, não tem alma) será erigido na base da devastação de uma reserva ecológica secular! Só se for bairro antiecológico. Ou então, se no livro de biologia do rico a floresta de concreto e aço e as nuvens de fumaça sufocante forem consideradas ecologia.

Além do mais, o mais importante e assombroso ainda está por vir à tona. Muitos dos que habitam aquele lugar já me alertaram sobre um vulto, ora negro, ora branco, ora cinza, enorme ou pulverizado em multifocos, que traz consigo atmosfera de inferno e lembrança de morte, vagando a esmo, errante por toda aquela região. Os nativos dali não o temem, e nem teriam porquê, pois esse vulto pestilento alega ser o seu sentinela. Sim, ele jurou amaldiçoar aquela terra e o que quer que esteja ou se erga sobre ela. É o espírito que guarda aquela terra, e os que com ela se relacionam em reverência e em amor. É o espírito ancestral de todos os que habitam o santuário indígena e por ele zelam. A terra responde como seio, de acolhida e de alimento, com canto coral de expressão da Natureza-Mãe, ofertando saúde, alegria e paz para aqueles que a ela pertencem. Aos que não sabem do que estou tratando, é sobre o que mais importa e é, contudo, sobre o que menos tem recebido importância. É que existe nada menos do que uma aldeia, composta por diversas etnias indígenas, de gerações sobre gerações. Em vez de ser tombado como patrimônio cultural do cerrado, o que querem desse micro-universo é que vá para o olho da rua – sim, para depois um bando de boy queimá-los vivos em praça pública.


Ô Maldição...


 
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