sexta-feira, 6 de julho de 2007

Heróis - Parte um

Esses dias eu tive a oportunidade de ver o milionário e recordista pessoalmente. Trata-se do Homem-Aranha 3. É claro que tal encontro necessitava de um preparo especial: fui até a locadora e peguei o um e o dois. Eu ainda tava de repouso e atestado pós-cirúrgico, então tava tranqüilo. Eu nunca tinha feito isso antes (aliás, pra quem me conhece melhor, sabe que eu não tenho tanta paciência pra filme), mas eu recomendo assistir a maratona de filmes antecessores ao que você quer ver no cinema. Vale à pena.

Mas o que eu tinha pra falar não era exatamente sobre isso. Era sobre o conteúdo dos filmes do Homem-Aranha. Dá pra extrair coisas interessantes de filmes hollywoodianos, sim. E tem muito filme cult-francês-calça-atochada que não vale nada, também. No primeiro filme, quando ele enfrenta a aparição do Duende Verde, Peter era um cara zoado, fraco, e com inserção apenas nos estudos. É picado pela aranha geneticamente modificada (propaganda sublimar dos transgênicos.. hehe brincadeira) e aí aumenta seus atributos físicos e etc. Com os ganhos em poder, aumentam-se os ganhos em responsabilidades (e isso não é meu, é uma frase do Tio Ben, de Peter). Isso se aplica, sobretudo nos relacionamentos de Peter: sua paixão adolescente se torna um risco pra Mary Jane, sua tia May se torna um dos principais alvos pros vilões e seu melhor amigo é também o filho de seu pior inimigo. Resumindo, além de derrotar o Duende, o desafio de como Peter-Aranha irá lidar com seus relacionamentos e sua vida ‘normal’ a partir da transformação é a grande trama do primeiro filme. Ele resolve seu conflito com MJ quando ela percebe que é apaixonada por ele e não pelo Aranha.

No segundo filme, seu principal problema se agrava. Começa mostrando de várias formas, como o Aranha engoliu o Peter. Enquanto Aranha agia sem trégua nas ruas, Peter ia mal nos estudos e nos relacionamento. A coisa vai se complicando até que ele percebe o quanto está estressado e nem Aranha estava mais dando conta de ser. Peter então demite o Aranha de sua vida, mas não de sua consciência. O lado Peter começa a ir bem, até que Peter se vê forçado por sua tia May e seus conselhos (aliás, decisivos pros encaminhamentos dos fatos nos 3 filmes) a retomar a vida de Aranha por maiores que fosse as implicações. Enfrenta Dr. Octopus, a dor de seu melhor amigo, e resolve de uma vez mostrar a raiz dos problemas pra Mary Jane (sem conotação maliciosa heim pessoal).
O que me deixou mais impressionado com o 2° filme é que a trama do filme se passa muito mais na cabeça de Peter/Aranha, do que na arena contra vilões. O maior desafio era a vida. Como vivê-la em situações como essa? O que Peter percebeu é que precisava ser Herói, independente de como as coisas fossem ficar. Uma das principais razões pra retomada do Aranha foi quando Peter percebeu a dependência das crianças de heróis como o Homem-Aranha. Se tem uma coisa que gostei no filme foi isso. O grande conflito de Peter não é prender assaltantes, isso aí ele fazia fácil com poderes de aranha. A questão era como conciliar tudo, como trabalhar horas mil de Aranha e ainda conseguir sustento pro Peter... Como ser Peter e relacionar com as pessoas que tornam o Aranha vulnerável...

No fim das contas, o interesse com esse texto não está exatamente no herói Aranha, mas o herói Peter. Aranha tem super-poderes. Agora, Peter representa alguém comum, com objetivos, sonhos, possibilidades para alcançá-los – inclusive o Aranha dá a Peter muitas oportunidades sujas – mas ele não opta por elas.

***
O livro de Christopher Reeve, Still Me, conta a história do super homem. Não exatamente de Clark Kant, mas da vida do ator que o interpretou. Li uma resenha do livro uma vez e li também uma entrevista com o autor. Nela, ele falava sobre definições de herói. Conta como a definição de herói pra ele mudou quando ele sofreu um acidente e ficou paraplégico e outras complicações. Isso tudo é importante. Herói não é aquele que tem superpoderes, faz atos de grandes repecursão, etc., não necessariamente. Herói, o que todos nós deveríamos ser, é aquele que luta contra os problemas da vida, contra as injustiças, procura fazer o bem por maiores que sejam as conseqüências e busca forças pra continuar vivendo, não obstante tudo o que apareça. Enfim, entre tanta baboseira no mundo dos best-sellers, dos blockbusters hollywoodianos, temos dois exemplos de grande impacto e com lições pra se extrair, mostrando um conceito diferente de herói pra essa sociedade vazia de razões.
 
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