Saíram ontem especulações sobre o valor dos apartamentos do chamado Setor Noroeste. É claro que os valores não eram mais do que uma piada. O problema é que os barões já não sabem mais identificar uma piada quando estão diante de uma – quanto mais seriam capazes de rir, caso vissem uma piada! Capacidades à parte, eis os valores estimados (sem falar de especulados): oito mil reais o metro², e – paralisem – dois milhões de reais um apartamento. Não é fantasia ou exagero. E isso é só o começo... não há limites para a avidez dos adoradores de Mamom.
Não é fácil sustentar uma charlatanice como essa. Dois milhões por um quadrado para chamar de ‘casa’. Então vêm as tentativas, ‘é a localização’, ‘é o luxo e o conforto’, ‘é a proposta de bairro ecológico’, ‘é o status’. Dentre essas e quaisquer outras justificativas para esse valor astronômico (sem querer ofender aos que gostam de astronomia, que é uma ciência maravilhosa, profunda e instigante... incomparável com a futilidade e a superficialidade do que está em questão aqui), acredito que a única que justifica de fato os valores é a questão do status. E hoje se faz de tudo por status, se vende o corpo por status, se vende a alma por status, se vendem os sonhos por status, e se compra um apartamento por um milhão, por dois milhões, simplesmente e fatalmente por status.
Mas não é de status que quero falar. Eu quero falar é das duas aviltantes justificativas, que são tão cínicas que me provocam raiva, mas elas não me farão sair do sério.
Os arautos do inferno moderno bradam a quatro ventos que esse será um bairro ecológico. E ainda possuem a cara de pau de dizer que esse será “o primeiro bairro ecológico do Brasil”! É preciso ser muito trouxa pra acreditar nessa piada de mau gosto. Vamos lá: por que será considerado um bairro ecológico? Porque vai ter coleta seletiva, uma tentativa de aproveitamento da água da chuva, e algo de energia solar. Faça-me rir! Coleta seletiva? Mas como coletar o seleto lixo da burguesia de Brasília, avaliado como um dos lixos mais ricos do país? Vale dizer que a comida, largamente desperdiçada em casa de barão, estraga rápido e não vai satisfazer as barrigas dos espoliados catadores do lixão. É importante lembrar que comida estragada na farta geladeira do rico e na sua transbordante dispensa não é imprópria só pra você, mas para o pobre também, apesar da insistência que rico tem em doar (desovar) coisa estragada para pessoas pobres.
Bairro sustentável? Ecológico? Por que não mencionar as garagens enormes para satisfazer os fetiches de uma população que tem mais de 1,5 carro por pessoa? Não vão mencionar o impacto disso? Pior do que a política de destinar terrenos para pessoas pobres sem dar nenhuma estrutura para esse aumento populacional (um mote no governo Roriz) é destinar terreno pra barão, justamente porque produzem muito lixo e entopem as vias com seus carros, cada um no seu, ainda que fosse fácil um dar carona pro outro. Além disso, os ricos são espaçosos, cheios de exigência, e coisas que fazem com que um espaço onde cabem 100 ricos caiba, por baixo, 500 pobres.
Ecológico nada! Esse “bairro” (porque de bairro mesmo não tem nada, não tem alma) será erigido na base da devastação de uma reserva ecológica secular! Só se for bairro antiecológico. Ou então, se no livro de biologia do rico a floresta de concreto e aço e as nuvens de fumaça sufocante forem consideradas ecologia.
Além do mais, o mais importante e assombroso ainda está por vir à tona. Muitos dos que habitam aquele lugar já me alertaram sobre um vulto, ora negro, ora branco, ora cinza, enorme ou pulverizado em multifocos, que traz consigo atmosfera de inferno e lembrança de morte, vagando a esmo, errante por toda aquela região. Os nativos dali não o temem, e nem teriam porquê, pois esse vulto pestilento alega ser o seu sentinela. Sim, ele jurou amaldiçoar aquela terra e o que quer que esteja ou se erga sobre ela. É o espírito que guarda aquela terra, e os que com ela se relacionam em reverência e em amor. É o espírito ancestral de todos os que habitam o santuário indígena e por ele zelam. A terra responde como seio, de acolhida e de alimento, com canto coral de expressão da Natureza-Mãe, ofertando saúde, alegria e paz para aqueles que a ela pertencem. Aos que não sabem do que estou tratando, é sobre o que mais importa e é, contudo, sobre o que menos tem recebido importância. É que existe nada menos do que uma aldeia, composta por diversas etnias indígenas, de gerações sobre gerações. Em vez de ser tombado como patrimônio cultural do cerrado, o que querem desse micro-universo é que vá para o olho da rua – sim, para depois um bando de boy queimá-los vivos em praça pública.
Não é fácil sustentar uma charlatanice como essa. Dois milhões por um quadrado para chamar de ‘casa’. Então vêm as tentativas, ‘é a localização’, ‘é o luxo e o conforto’, ‘é a proposta de bairro ecológico’, ‘é o status’. Dentre essas e quaisquer outras justificativas para esse valor astronômico (sem querer ofender aos que gostam de astronomia, que é uma ciência maravilhosa, profunda e instigante... incomparável com a futilidade e a superficialidade do que está em questão aqui), acredito que a única que justifica de fato os valores é a questão do status. E hoje se faz de tudo por status, se vende o corpo por status, se vende a alma por status, se vendem os sonhos por status, e se compra um apartamento por um milhão, por dois milhões, simplesmente e fatalmente por status.
Mas não é de status que quero falar. Eu quero falar é das duas aviltantes justificativas, que são tão cínicas que me provocam raiva, mas elas não me farão sair do sério.
Os arautos do inferno moderno bradam a quatro ventos que esse será um bairro ecológico. E ainda possuem a cara de pau de dizer que esse será “o primeiro bairro ecológico do Brasil”! É preciso ser muito trouxa pra acreditar nessa piada de mau gosto. Vamos lá: por que será considerado um bairro ecológico? Porque vai ter coleta seletiva, uma tentativa de aproveitamento da água da chuva, e algo de energia solar. Faça-me rir! Coleta seletiva? Mas como coletar o seleto lixo da burguesia de Brasília, avaliado como um dos lixos mais ricos do país? Vale dizer que a comida, largamente desperdiçada em casa de barão, estraga rápido e não vai satisfazer as barrigas dos espoliados catadores do lixão. É importante lembrar que comida estragada na farta geladeira do rico e na sua transbordante dispensa não é imprópria só pra você, mas para o pobre também, apesar da insistência que rico tem em doar (desovar) coisa estragada para pessoas pobres.
Bairro sustentável? Ecológico? Por que não mencionar as garagens enormes para satisfazer os fetiches de uma população que tem mais de 1,5 carro por pessoa? Não vão mencionar o impacto disso? Pior do que a política de destinar terrenos para pessoas pobres sem dar nenhuma estrutura para esse aumento populacional (um mote no governo Roriz) é destinar terreno pra barão, justamente porque produzem muito lixo e entopem as vias com seus carros, cada um no seu, ainda que fosse fácil um dar carona pro outro. Além disso, os ricos são espaçosos, cheios de exigência, e coisas que fazem com que um espaço onde cabem 100 ricos caiba, por baixo, 500 pobres.
Ecológico nada! Esse “bairro” (porque de bairro mesmo não tem nada, não tem alma) será erigido na base da devastação de uma reserva ecológica secular! Só se for bairro antiecológico. Ou então, se no livro de biologia do rico a floresta de concreto e aço e as nuvens de fumaça sufocante forem consideradas ecologia.
Além do mais, o mais importante e assombroso ainda está por vir à tona. Muitos dos que habitam aquele lugar já me alertaram sobre um vulto, ora negro, ora branco, ora cinza, enorme ou pulverizado em multifocos, que traz consigo atmosfera de inferno e lembrança de morte, vagando a esmo, errante por toda aquela região. Os nativos dali não o temem, e nem teriam porquê, pois esse vulto pestilento alega ser o seu sentinela. Sim, ele jurou amaldiçoar aquela terra e o que quer que esteja ou se erga sobre ela. É o espírito que guarda aquela terra, e os que com ela se relacionam em reverência e em amor. É o espírito ancestral de todos os que habitam o santuário indígena e por ele zelam. A terra responde como seio, de acolhida e de alimento, com canto coral de expressão da Natureza-Mãe, ofertando saúde, alegria e paz para aqueles que a ela pertencem. Aos que não sabem do que estou tratando, é sobre o que mais importa e é, contudo, sobre o que menos tem recebido importância. É que existe nada menos do que uma aldeia, composta por diversas etnias indígenas, de gerações sobre gerações. Em vez de ser tombado como patrimônio cultural do cerrado, o que querem desse micro-universo é que vá para o olho da rua – sim, para depois um bando de boy queimá-los vivos em praça pública.
15 comentários:
A aristocracia de hoje carrega no corpo os genes dos colonialistas das caravelas. 500 anos depois e a história é vergonhosamente a mesma.
hhahahahahaha
hahaha!! É de dar risada mesmo essa piada! É bom ver que tem gente capaz de rir desses valores!
...Aliás, será que nós estamos rindo da mesma coisa, Anônimo(a)? Fiquei em dúvida agora.
Esse blog tá ficando polêmico, hein... até risadas anônimas estão aparecendo!
Bras-ilha vai ficando cada vez mais inchada com esses novos "bairros" que de bairro não têm absolutamente NADA! As pessoas do prédio, do bloco, da quadra, da Asa, do Plano... ninguém se conhece, nem o execrado bairrismo existe nessa cidade! Enquanto isso, mais caixinhas vão sendo amontoadas umas sobre as outras, ocupando o morto cerrado, seco e ácido. Os carros correspondentes a cada caixinha empretecem o ar, inflam as pistas, incomodam os ouvidos... Não vejo nada de ecológico, nada de bairro, nada de nada. Só muito de poucos.
"As formigas vivem juntas, e juntas as abelhas fazem o mel. E o homem feliz é o que sozinho vive num arranha-céu".
Disse tudo, Kamilla. Muito de nada e muito de poucos...
...E nada pra muitos!
hahahaha!
sou loco pra descobrir quem se dá ao trabalho de ler td e postar anonimo. Tu é foda ein leo! Atrai os anonimos td pra cá!
sobre o post? anhnnn...
Cade? o eduardo vai falar nada não é? tá fraquejando o rapaz é?
Pode tirá o olho dos meus anônimos, rapá! Deixa eles aqui, aqui é onde eles sempre tiveram de estar. Além do mais, eu me interesso muito por esses comentários anônimos.
Não sei o que que rolou com o Eduardo.. Logo ele, que tinha se comprometido a ganhar de você nesse lance dos comentários..
tá vacilando o eduardo viu..
pois é leo, acho muito interessante isso de anonimos... acho q merecia até um post, ou sei lá... da pra gerar uma conversa infinita. Pq naum se sabe muito sobre anonimos né? ainda mais pq eles falam bem pouco pra fugir da identificação. Isso é, se é q são do nosso conhecimento. Mas q desconhecido iria se dar ao trabalho?
PRR-1 defende terras indígenas em Brasília
por Fabiana Freitas e Silva Derzié Luz
A Procuradoria Regional da República da 1ª Região (PRR-1) emitiu parecer a favor dos índios que ocupam área destinada ao setor Noroeste, em Brasília. Os índios com receio de serem retirados da área de reserva que ocupam há mais de 30 anos entraram com ação contra a TERRACAP com o objetivo de assegurar a posse das terras ocupadas por eles.
O juiz de 1ª instância decidiu extinguir a ação sem julgamento do mérito por entender que não há perigo ou ameaça às terras indígenas. Segundo ele, “a pretensão deduzida pelos autores está baseada tão-somente em entrevista concedida, em 21.03.2005, pelo porta-voz do Governo do Distrito Federal, na qual informou publicamente da possibilidade de retirada dos índios da Reserva Indígena da Fazenda Bananal, não se verificando portanto, quaisquer atos materiais tangíveis a justificarem a intervenção judicial”.
No recurso destinado ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), os índios alegam que a TERRACAP e o Distrito Federal não comprovaram através de escrituras que são os legais proprietários da terra e que reportagens amplamente divulgadas na imprensa deixam claro que a criação do setor Noroeste é prioridade do GDF.
Para o procurador regional Marcelo Antônio Serra Azul, a sentença da 1ª instância deve ser anulada por não ter ouvido o Ministério Público Federal e a FUNAI, responsável pela defesa dos interesses indígenas. Segundo ele, o recurso de apelação deve ser provido e seu mérito analisado, pois há inúmeras provas de que houve ameaça por parte do GDF a posse das terras indígenas.
O procurador explica que, segundo a Constituição, "as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a seu usufruto permanente, sendo inalienáveis e indisponíveis e os direitos sobre elas, imprescritíveis, visando a preservação e defesa da organização social, dos costumes, das línguas, das crenças e tradições dos índios. Além disso, há documentos que comprovam o incômodo que a TERRACAP e o GDF estão causando à comunidade com constantes solicitações". Para ele, é legítima a necessidade de garantir a continuidade da posse mansa e pacífica.
O parecer será analisado pelo TRF-1.
A Procuradoria, Ministério Público, Funai, poderiam mesmo fazer alguma ação que barrasse esse 'bairro'. Ia ser lindo ver o GDF, empresários, e barões dobrando os joelhos para o entendimento de que mais vale aquela comunidade indígena ali do que o interesse de faturamentos milionários do capital.
Peleguei aqui, Jones... =/
Quanto à risada, anônima nada, faz parte da maldição.
O problema é que muita gente que lê esse blog (por causa do contexto todo...) mora na asa norte, asa sul, sudoeste e afins; então isso tudo é meio que apontar o dedo na cara de cada um, que é provável ter um pai ou parente que pensou "tô me aposentando, vou comprar um apê nesse bairro ecológico aí..."
Então é meio que aquela risada nervosa, saca? Dá pra entender...
Agora imagina quanto não vai valer o metro quadrado no Noroeste quando o GDF conseguir tirar o CAJE dali, hein...
o/
Ortegal...
Valeu pela presença! Que bom apareceu!
Eu fiz uma reformulação do meu blog, precisava rede-finir sua final-idade e talvez passe a constituir outro com apenas os textos que produzo. Ao final dele coloquei aqueles textos que já existiam para não perder suas origens vinculados às imagens dele.
Atualmente estou fazendo uma pintura e um retrato, provavelmente estarei postando em breve. Vc quer desenvolver uma arte? De que tipo? Podemos sim fazê-lo sem desde quê.
Nem tudo carregamos no sangue, e nem nascemos assim tão feitos... fazemos parte de um processo sendo parte e processo. a fornalha do dia a dia faz-nos temperados e no fim tornamos-nos desalmados e frios agregando-nos ao solo que nos concebeu assim tal como somos aparente e parente.
Diga-me, como é que vc quer que eu faça este layout para vc?
Eu também quero mudar em vários aspectos (ou características) sem contanto quê...
Então? Afinal?
O que faremos? Somos feitos...
Pois é ryone,
Arranha-céu é o termo que se usa pra grandes prédios. Nesse sentido aí, eu acho que já entrei em alguns altos, mas não dos mais altos. Agora, sua pergunta me pensar sobre esse termo, e ele é um reflexo da pretensão e soberba humana. Na verdade, esses edifícios estão bem longe de sequer céu.
E os seus trabalhos lá estão muito bons, profissionais mesmo! Depois te explico esse lance do layout assim que eu der uma olhada numas coisas pra te passar melhor.
Hahahaha, Brilhante!!!
Mais engraçado seria os próprios barões lendo este texto, não é verdade?
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