sábado, 29 de maio de 2010

Em vocês, nós não pensaremos


Quem nunca sonhou em ser invisível? Estar sem ser visto poderia ter vantagens demais. O problema seria não poder voltar a visto. Por incrível que pareça, esse sonho de criança é a realidade de muitos. Eu mesmo me senti desse jeito no meu próprio bairro.

Já tem um tempo que cercaram muitos descampados aqui no Guará. A ideia é enchê-los de prédios e abarrotar a cidade. Alguns são gigantes, e tem um que promete de tudo. Deixaram construir uma cidade dentro da própria cidade. Eu fiquei curioso com os anúncios, mas acabei vendo um anúncio nas entrelinhas que me chamou a atenção e decidi compartilhar por aqui.

Piscinas para você mergulhar com seus filhos, espaço para você que é mulher melhorar sua estética, espaço pra isso, espaço praquilo, espaço pra todos os gostos e pra todas as idades. Só não há espaço pra você que não tem nossa cor”. Eu tirei fotos de todos os anúncios que tinham pessoas, pra ver se algum negro salvava essa história. E o resultado foi o pior possível. “Em vocês, nós não pensaremos”, foi a mensagem que eu vi surgi do fundo de cada um dos anúncios. Eu simplesmente senti que eu e meu povo não passamos de invisíveis, mesmo quando se fala no tal eficiente Mercado.

As fotos falam por si. São 17 placas como essas que estão aí em baixo. Vale muito a pena conferir. Acesse:

http://picasaweb.google.com/lh/sredir?uname=ensejo&target=ALBUM&id=5476761510149653985&authkey=Gv1sRgCPOF2tyg6Nmv4AE&feat=email








...E depois eles querem dizer que não existe racismo no Brasil. Tá aí um prato cheio, do lado da sua casa.

sábado, 15 de maio de 2010

Ilhas - Parte Três

Se alguém achou exagerado quando eu postei, eles insistem para você acreditar na veracidade. O lema é: viva a sua ILHA.





Vou repostar o texto sobre o qual eu estou falando. Abraços!


Ilhas habitacionais e o paradoxo do pensamento de massa e individualismo social


Essa é a parte II do texto do Setor Noroeste. Havia mais esse assunto pra tratar, e eu acabei optando por separar essa parte do texto anterior. O Setor Noroeste é um caso emblemático, mas se enquadra dentro desse assunto mais geral, que é o de hoje.

O que acontece é a existência de um fenômeno bem típico de sociedade, cuja dinâmica é a do desenvolvimento desigual e combinado (salve Furtado!), isto é: uma sociedade que cresce na riqueza (concentrada) e na pobreza ao mesmo tempo. Sim, é uma contradição, mas uma contradição de alma; no caso, a alma do modelo capitalista. Daí é que não causa surpresa o ‘bota fora’ feito para índios seculares, em nome da devastação de matas preservadas para a edificação de mais uma colônia de concreto de alto custo.

Um caso semelhante é o surgimento das ilhas habitacionais. Ilhas! Eu queria parabenizar a pessoa que teve a idéia de dar esse nome! Nenhum outro nome poderia se encaixar tão perfeitamente como esse. Aqui no DF já existem duas, Ilhas Maurício e Ilhas do Lago. E a idéia é bem essa mesmo, um oceano de pobreza e miserabilidade humana cercando um pequeno aglomerado de riqueza acumulada.

..Mas eu falei de riqueza, pobreza, e miséria humana? Porque é fundamental deixar claro que esses termos podem ser relativizados e postos de cabeça pra baixo. Afinal, que riqueza há em habitar um lugar, cujo valor injetado para comprar a especulação daria pra bancar a sobrevivência de famílias e famílias que perecem por não terem o mínimo necessário para viver? Que riqueza há em ter uma tv enorme e bonita, se o noticiário que o rico entediado assiste por ela só mostra violência e desgraça?

Além disso – e de muitas outras coisas que poderiam ser ditas nesse sentido –, existe um ponto muito interessante que eu gostaria de compartilhar aqui. É sobre o paradoxo do pensamento de massa e o individualismo social. É uma contradição muito interessante, não fosse o seu trágico conteúdo para a ‘nossa’ humanidade. Parece algo confuso e, à primeira vista,complicado de entender. Mas a explicação vai se tornando acessível na medida em que nos deparamos com exemplos variados desse paradoxo no nosso cotidiano.

O pensamento de massa, como o próprio nome já diz, tem a ver com isso aí que está em todo lugar. Um pensamento só, que serve como molde para uma frota, um exército de indivíduos. Uma só receita. Um só caminho para a felicidade – o segredo está enterrado nas Ilhas! O individualismo social, por sua vez, é a proeza que a sociedade é capaz de produzir, e que está resumido naquela conhecida frase: ‘sozinho no meio da multidão’. É a capacidade de um conjunto de indivíduos estarem juntos e separados ao mesmo tempo. É quando o seu sucesso é completamente dependente do fracasso de muitos. É quando o indivíduo é como uma ilha, e a sociedade é como um mar que não se cansa de tentar invadir, engolir. E aquele que se vê na posição de ilha e vê os outros como mar, é também o mar que inquieta a ilha que é o outro.

Acho que deu pra entender os dois pontos. Agora, o paradoxo que aí existe: Como é possível que os indivíduos sejam massa onde deveriam ser únicos, e únicos, onde deveriam ser coesos como os ingredientes de uma massa? É isso aí. É quando se consegue fazer com que um mundo inteiro não ultrapasse os limites de uma ilha.

domingo, 2 de maio de 2010

Homenagem aos Novos Candangos - 1º de Maio



Aos inconformados

Aos dignos indignados
Aos que ousaram lutar, não sem temer,
Mas ousaram.

Não sem perder,
Não sem ter famílias,
Não indolor,
Mas lutaram.

Em nossa homenagem
O dia primeiro de maio, construtores!
Em nossa homenagem
O aniversário da cidade-mãe que estamos a reconstruir!
Em nossa homenagem
O dia dezoito de maio, pela violência imoral e covarde da polícia à qual sobrevivemos!
Em nossa homenagem
O dezoito de maio, pelos delírios e a loucura de achar que a imensa corrupção poderia ruir!

Aos novos candangos
O suspiro esperançoso de um país
Que, embora, não esteja liberto
Sabe que pode contar com o amor rebelde de seus filhos
Quanto trabalho! Quanto suor!
Lágrimas! E ainda quanto sangue!
Numa obra deveras monumental
A implosão das pútridas obras de corrupção
E a edificação da cidade liberta.


Ortegal






Nesse 1º de Maio, homenagem aos que trabalham na construção de uma outra Brasília

Parabéns aos Novos Candangos!
 
Free counter and web stats