quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Feitiço Poético em Arruda

Hoje eu recebi uma notícia engraçada. Fiquei sabendo que um homem guaraense a quem muito admiro, o Adilson Didi, foi visitar o nosso ex governador Arruda para entregar-lhe um presente. Só que o presente era nada menos do que a Antologia Poética do Guará, uma coletânea de poesias de autores do Guará e do restante do DF. Eu, como não sou lá um poeta, mas sou um guaraense malandro, dei um jeito de colocar o meu punhado de palavras românticas lá dentro. Mas o livro reúne artistas ilustres, como Mangueira Diniz e Nicolas Behr. Tem muita coisa ali que vale a pena. Voltando ao assunto primeiro, eu fiquei sabendo da história por um amigo, mas como miséria pouca é bobagem, a sensação saiu até na Folha de São Paulo... não podia ser num jornal um pouquinho menor, não. Muitos amigos poetas ficaram zangados, e praguejaram o caso - principalmente porque são co-autores da obra, e não lhes foi avisada a tal presepada". Só souberam pelo jornal. Eu, que nessa vida já sofri bons bocados, procuro aprender da minha dor. E consegui dar risada quando soube da tragédia, afinal, me dê licença que eu tenho mais o que sofrer. Mas acho que o fato de eu ter arejado minha mente com boas risadas me fez enxergar uma luz de esperança nisso tudo, e foi por isso que eu trouxe a história pra cá.













Acontece que poesia é feitiço, e feitiço traiçoeiro. E na Antologia Poética do Guará tá cheio desse tipo de mandinga. Se o nosso governador presidiário resolver de ler uma amostra, ele pode amargar um bom tiro a sair pela culatra. Se ele se encontrar com os versos afiados de Nestor Kirjner, por exemplo, vai chorar quando ver um lado da Brasília de 50 anos que o próprio governador preso organizou ao longo de todo o seu mandato, mas insistiu em fingir não ver. Se ele esbarrar com meus versos, padecerá de semelhante infortúnio. Meus versos, aos quais pedi que servissem de manto, não servirão a Arruda: É que ele já está recoberto com manto de sangue. Queria ter sido eu a entregar um exemplar desta obra ao detento, para, numa singela dedicatória, escrever: "o sangue daquelas crianças escorre é das tuas corruptas mãos".


Espero que o livro lhe chegue, e que, em chegando, lhe traga um feitiço poético daqueles. Nao daqueles de acalentar a alguém que sofre, mas daqueles de desnudar a alma para que ele consiga enxergar a sua, no profundo fosso de corrupção onde está mergulhada.



* * *


Eis a poesia de minha autoria publicada na Coletânea Poética do Guará:


Verso Manto


Vai, verso meu,

Verso solo e que é frágil,

Se desfaça, qual neblina,

E torne-se a atmosfera da terra.


Vai, verso meu,

Faz o que há de ser feito

Para redimir nossa alma.

Cai do alto.

Goteja sem fim nos pedrados corações

Até que fure

E mostra o quanto a dor de um só machuca a tantos.


Vai, verso de sol,

Leva o calor de seu sentimento

E evapora o pranto.

Afaga o que morre por dentro

Ao ver morrer um dos seus

Ainda criança.


Vai, verso manto,

Se abra e recubra

Aqueles que sofrem o flagelo e a desgraça

De viver padecendo no mundo.

Leonardo Ortegal


* Inspirada na dor que é perder um filho,

sobretudo quando vítima de violência e omissão,

como foram as mortes no CAJE em 2008 e em todos os anos.


8 comentários:

ortegal disse...

Acabou que nem deixei o link da reportagem. Mas agora vai:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u694204.shtml

Giovani Iemini disse...

muito bem, poeta, tem que se manifestar mesmo.
tb tô na antologia e achei muito estranha a ação do didi. qual era seu objetivo?

[]s

Bianca Damacena disse...

Ortegaaaaaaaal tá famoso!!!
ahuahuah sacanagem!!!
Gostei da poesia!!! Mas essa história de presente pro detento?? Sei não hein!!!

ortegal disse...

Poxa, Giovani.. Eu também não entendi direito. O que eu sei é que Arruda é corrupto. E existe o campo das divergências e convergências de projeto político, onde é tranquila a liberdade, mas existe um campo inegociável: o campo da corrupção. E eu acho que não cai bem presentear quem se corrompeu e espoliou o povo.

Valeu pela visita! abraço

ortegal disse...

Hahaha! Pois é Bianca!

Eu procuro ser um cara dialético, que olha variadas possibilidades de uma mesma oportunidade.

Eu queria entregar um presente como esse, se fosse o caso. Um DVD cheio de vídeos, da polícia nos espancando por estarmos inconformados, de Arruda jurando pelos filhos que não violou o painel, do dinheiro que ele recebeu e todos sabemos que é ilícito... imagina!

Igual esse meu momento de fama indireta e momentânea! hahaha olha só a razão dessa (in)fama!

Hoje Arruda é o político mais famoso do país, com certeza. Deve estar atras só de Lula e olhe lá.

Mas imagina se essa visibilidade toda foi por causa de um gênio da lâmpada que perguntou pra ele "você quer ser um dos políticos mais famosos do Brasil?"

hehehe

Fuckin'Jay disse...

meu amigo tá nas mãos do arruda agora, ele lendo tua poesia para não ter q imaginar vingança! hahaha, Ou seja, mais uns anos e ele de volta! É só ele dar uma choradinha!

Marcelo Alves disse...

Cara, mais uma vez, gostei do post pra caramba!!
Geniaaal meu caro leozinho!!! ahuahuahuahauha

e bicho, se posso usar seu espaço vou deixar minha indignação convosco

não estou no livro, mas gostaria que o arruda lesse a minha também, e não só ele, mas o plenário inteiro, e quem me dera, ter uma bomba no dia dessa ocasião, aí com certeza poderia morrer feliz kkkkkkkkkkkkk

E digo mais, pode não ter parecido, mas pra mim a atitude desse bicho fez todo o sentido, depois q vc explicou claro pq não li o livro.

A corrupção existe na alma, no âmago, e os castigos materiais, físicos, são simplórios demais para serem fortes o bastante para envergonhar uma pessoa tão banalizada quanto essa. Ele já não tem mais escrúpulos, de que adianta ele aparecer na tv, etc. Só não é pior que o roriz, pq ali já é do tinhoso, que é como diz um grande amigo meu: Roriz, o senhor feudal de brasília. Mas aí vai meu fruto, mais um grito... se todo mundo bradasse junto como diz o hino, talvez algo melhorasse:

Corruptibilidade

Os acúmulos e excessos daquela cidade
São formados por uma tísica sujeira,
Nociva à idéia à sua maneira,
São frutos de uma decrépta sociedade.

Declaradamente calamidade,
Os apelos ao menos chegam nos ouvidos
Daqueles que por eleitos tidos,
Mas pouco sabem da verdade.

De nada serve fazer alarde,
Quando não se passa de um dado,
Pois só o sangue do imolado
Nos livrará de toda a maldade.

É incomportável eletricidade
Que gera calor e tanto me excita,
Que ao ouvir-se à morte e a todos cita,
Poder erradicá-los com brutalidade.

Oh, Escória da humanidade,
Quisera vê-los à minha frente
Para cortar-lhes o cerne rente
Com requintes de crueldade.

Agora afaste-se pária corrupta,
Pois não permito-lhe sugar-me o sangue...
Não mais perdurará sua invisibilidade,

Sei que como uma avalanche abrupta,
Que permite de mim que se exangue
Toda essa sua inutilidade!

Marcelo Macedo Alves

galera perdeu um pouco a formatação, mas releva hehehehehe

Marcelo Alves disse...

ihh agora que vi perdeu não, eba!

 
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