domingo, 22 de novembro de 2009

A herança dos assaltos de Palmares


Andei um tanto ocupado esse últimos dias com a greve, e aí acabei não dando a visibilidade que acho que esse dia merece. Na verdade não é só por merecimento, é por amor mesmo. Meu sangue ferve e até as lágrimas descem quando o assunto é o povo preto.

Acabei não escrevendo no dia, mas é como acabei de dizer: eu preciso dar Visibilidade a esse tema.

Há um bom tempo atrás, mais de uma década, o instituto DataFolha lançou uma grande pesquisa sobre a questão da desigualdade racial no Brasil. Os resultados acabaram dando a idéia exata ao título, e o estudo foi intitulado Racismo Cordial.

O que seria o racismo cordial? Vou tentar expressar o espírito do conceito com um dado* brutal: Apenas 5% das pessoas entrevistadas admitiram ter atitudes racistas, mas 95% das pessoas afirmaram que conhecem ao menos uma pessoa racista. Ou esses 5% são mais conhecidos que nota de dois reais, ou existe algo muito estranho entre os 95% restantes.

O racismo cordial é um tipo de racismo invisível. É como o vento que não se vê mas a todos se faz sensível. O racismo no Brasil é invisível, o genocídio negro persiste até hoje e segue invisível à maioria, o Dia da Consciência Negra ainda carece muito de visibilidade. Há uma luta já histórica de fazê-lo feriado, mas é uma luta que querem tornar invisível.

O dia 20 de novembro tem a ver com Zumbi e Palmares. E da intangível herança de Palmares, eu quero registrar apenas por alto os assaltos**. Um deles é a herança quilombo, e o outro, as cotas nas universidades e outras instituições.









Qual é a herança quilombo a que me refiro? Acredito que a maioria pensa em algo abstrato, alguma característica, etc. e tenho certeza que muita gente simplesmente desconhece o que vou falar: a herança quilombo são os próprios quilombos. Os quilombos que existem até HOJE. Mas agora o nome mudou um pouco, para Comunidades Quilombolas, ou Comunidades de Remanescentes de Quilombo. Existem comunidades de filhos, de netos e bisnetos de escravos até hoje no país, resistindo, lutando pela demarcação de suas terras que até hoje o Estado racista não reconhece o pertencimento. Para os mais desinformados, não muito longe do DF existem os Kalungas, um quilombo aqui nesse Goiás (do qual o DF finge que não pertence).

O outro assalto é a instituição de cotas para negros em universidades e outros espaços. É difícil de conceber, mas na universidade pública, a população negra era de apenas 2% do total, conforme revelava o Ipea. Hoje, com 20% das vagas, que muitas vezes são disputadas com brancos que querem nos destituir de nossa conquista chegando afirmar que são negros sem o ser, garantimos um espaço que já desencadeou um ciclo de transformações na sociedade brasileira.

E onde entra a herança do assalto nessa história? É basicamente o seguinte: tudo aquilo que a população afro-brasileira conquistou até hoje nessa terra desde que foi raptada de África foi de assalto. Nesse sentido, até a própria liberdade teve que ser tomada à força das mãos dos colonos. Quilombo foi a forma que os assaltantes da liberdade deram, quando a coletivizaram. E até a própria terra onde essa liberdade assentava seus pés teve que ser tomada dos opressores. Bem assim as vagas de estudo e trabalho. Chega de um povo apenas construir e o outro apenas usufruir. Vamos partilhar o segundo hábito, nem que seja pegando uma parte e dizendo: essa aqui é para este povo.


Viva Zumbi! Viva Palmares!

Viva esse pigmento que dá esse tom lindo à nossa pele, apesar das consequências!



* Eu arredondei 5% e 95% porque não lembro o número exato. Se eu não me engano é ainda mais acentuado, tipo 98% e 2%.

** Dois assaltos recentes estão registrados nesse blogue. Veja clicando aqui

7 comentários:

ortegal disse...

Ah! Eu acabei falando só da herança, mas não falei dos assaltos da época!
Acontece que Palmares não apenas resistia como um saco de pancadas. Palmares também criava suas próprias comissões de assalto às propriedades coloniais, tomando mantimentos e libertava escravos.

Foram esses assaltos, que pra mim simbolizam a resistência negra, que têm por herança os assaltos contemporâneos que estão no texto.

Bianca Damacena disse...

Oi Ortegal!!! lindo post!!!
Eu gosto de vir aqui no seu blog porque sempre tem uma surpresa massa hauahuah

E queria aproveitar rambém pra registrar um pouco da marcha Zumbi aqui wm Porto Alegre. Foi uma marcha em conjunto com a causa dos professores estaduais que estão sendo atacados pelo governo Yeda (assunto pra uma outra hora) mas como choveu muito, quase não tinha ninguém, nas duas marchas...

Algo que me chamou atenção foi que na concentração da marcha Zumbi, não se fez nenhuma fala realmente política sobre a questão dos negros no mundo... não se puxou nenhuma palavra de ordem... enfim, trataram o dia como se fosse carnaval onde apenas houve apresentações de samba, com meninas negras bonitonas e de roupa curta... enfim, não sei o que isso representa, mas eu esperava mais de um dia de luta...

Beijooos (aparece no meu blog também!!!)

ortegal disse...

Hahaha que bom que vc fica surpresa! surpresa é sempre bom na maioria das vezes!

Poxa, Bianca! Esse seu comentário traz a essência do meu intuito com esse blog! Eu trouxe a minha contribuição dentro de um assunto, e você, mais do que comentar (o que já é muito válido), trouxe a sua própria contribuição! Valeu!

De fato, ritmo, musicalidade, beleza e sensualidade são características marcantes desse povo abençoado com a cor do chocolate. Mas já passou da hora de ampliarmos e irmos além.

Sabe, antes do 20 de novembro, o dia de referência era o dia da abolição da escravatura. A mudança ocorreu justamente pelo fato de que a lei áurea é uma falácia despolitizadora, e que era necessário escolher um dia de significado forte, como é o dia 20 - justamente o dia da captura e morte de Zumbi.

Pelo que você me conta, a marcha aí passou longe do caráter de luta que possui a data.

Um caminho que vejo é talvez aprendermos com Palmares. Uma herança de Palmares é justamente uma dança que é uma luta, e uma luta que é uma dança, a capoeira.

Que aconteça a dança, mas que saibamos fazer luta na dança e dança na luta!


- Ah, e já vou seguir e adicionar nos links! Eu não tinha visto que vc tinha blogue!


Beijos

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