sábado, 26 de julho de 2008

Todos contra todos na luta do transporte público

Infelizmente, quem eu mais queria que participasse dessa discussão não vai ler esse texto. Isso é triste e nos mostra o quanto temos de desafio pela frente. De qualquer jeito, esse é um assunto que interessa a todos. Todos estão no ringue da luta que apresento hoje.

Ontem eu estava numa lotação laranjinha. Como elas não passam perto da minha casa, quase nunca eu entro nelas, mas ontem eu só tinha essa opção. Depois de mim, entrou uma mulher que voltava do trabalho. Acomodou-se e perguntou pro motorista “vocês vão rodar amanhã?” a resposta foi seca, direta “não”. Uma outra chegou e perguntou a mesma coisa. A resposta foi a mesma, com certo tom de irritação. A senhora se lamentou, e o motora atalhou “cês pelo menos tão empregados, e a gente?”
Interessante essa observação dele. As lotações são conhecidas pelas peripécias: andam rápido e perigosamente, enfiam passageiros até no teto e vazando pelas janelas, ficam lerdos ou parados quando tá fraco de passageiro, passam só até onde é conveniente, e a pior delas: escrotizam com os idosos por terem passe livre. Eles são comissionados, é diferente dos ônibus. A lógica deles não é o serviço, é o lucro. Depois de ferrarem mil vezes com a vida de quem depende deles, eis o salário final: o olho da rua.
Ninguém se importa com esse exército de desempregados, de famílias com as contas comprometidas. Tá todo mundo cuidando do seu.
Um caso relacionado a esse é o dos ônibus. Não faz muito tempo que os ônibus fizeram uma paralisação com quase 100% de adesão entre eles (tem uma discussão interessante sobre isso nos comentários do post do aniversário do Manifesto). Todo mundo puto nas paradas e reclamando da paralisação e temendo a greve. Mas nesse dia de paralisação, uma frota de heróis salvou a pele dos trabalhadores. Quem foi? O exército de futuros desempregados: os motoristas de lotação. Heróis para os trabalhadores sem ônibus, mas vilões para os rodoviários.
Quatro equipes e um mesmo ringue: Lotações, Sociedade, e Rodoviários, todos contra todos. Mas pelo que se vê por aqui, será que se trata de rivais ou de aliados?



***
No dia das paralisações um carteiro ficou puto: não conseguiu ir pro trabalho porque não tinha transporte pra ele. Ele ficou puto, mas o rodoviário ficou feliz porque conseguiu receber mixarias do patrão. Mas esse mês foi a vez do rodoviário: as mixarias não adiantaram muita coisa, pois tá pagando as contas do mês tudo mais caro. As contas desse mês atrasaram, mas não foi por culpa dele, foi do carteiro que não paralizou as entregas por quase um mês inteiro. Rodoviário puto, carteiro feliz – foi sua vez de ganhar mixarias.

9 comentários:

Eduardo Chaves disse...

As pessoas que utilizam o transporte público não são cidadãos, mas meros comsumidores. Dessa forma, toda a sociedade, de uma forma ou de outra, acaba por legitimar o desmonte do Estado em prol do lucro dos empresários que, nesse caso, foram mais fortes que as cooperativas de vans. Realmente, acaba que ninguém se vê como parte de um mesmo sistema que os desfavorece, né? De "um por todos e todos por um", para "todos contra todos".

Kami disse...

as "cooperativas" de vans não são tãão cooperativas assim: tem mto empresário e político metido nessa parada das vans... Ou vocês acham que é a toa que alguns parlamentares defenderam a permanência do serviço das vans?
O governo tem é mesmo que suprir essa necessidade. Transporte é direito do cidadão! E boto fé que o foco do arruda pra fazer seu nome no governo é esse mesmo: metrô, ampliação de estradas, microônibus...
Enquanto isso, no entorno a passagem subiu. Enchendo os bolsos dos empresários e esvaziando o da mão-de-obra que trabalha no DF. Qual o final dessa história?

Eduardo Chaves disse...

Exato, Cuca, é cobra comendo cobra. Nesse caso, as cooperativas eram cobras menores... hehehe
E esses trabalhadores vai ter que se submeter ainda mais para continuarem nos empregos, pois o empresário (ou o patrão da dona-de-casa) não fica com a conta.

Eu vi que tem muitos problemas nessa história dos microônibus, alguém sabe de qual é?

o/

ortegal disse...

O que desanima é ver a população se estranhando no meio dessa confusão: ué, cobradores e motoras de vans, cobradores e motoras de onibus (micro ou macro), população que utiliza o transporte são mais semelhantes do que imaginam!
Mas aí você vê funcionário de van apredejando microonibus, vê o passageiros xingando o motora de onibus porque o baú estragou e não passou na hora, e 'enquanto isso..' os patrões saem ilesos.

No entorno a passagem aumentou. Aqui, com certeza os patrões pensam tres vezes antes de aumentar, porque a população do DF é mais coesa, nível de educação maior e capacidade de questionamento maior. Aquelas manifestações do Passe Livre que pararam os quatro eixos do centro de Brasília dão receio até hoje, com certeza.

Po, o lance dos microonibus tava na cara que eles não iam cobrir o formigueiro de vans que tinham no DF e isso já foi observado nesses dias de circulação: demora e incapacidade de suprir. Mas fora isso, não sei de mais nada. Aliás, tenho que dar o braço a torcer que o Arruda fez essa licitação pública, coisa que sempre é mais limpa, mais controlada, e extinguiu essas permissionárias que era obscuro e sujo. Além disso ficou mais barato e portanto mais justo. Esse lance de ser uma catraca eletronica, assim como nos baús também abre mais ainda as portas pra integrar o transporte público, que até hoje não aconteceu porque mexe nos bolsos dos patrões, que ganham às custas de um péssimo serviço oligopolizado.

Fuckin'Jay disse...

transporte publico é planejamento urbano, quanto mais vc cresce uma cidade mais transporte é necessario. Lógico né? O problema é q brasilia foi pensada pra cidadãos motorizados, individualizados mesmo. O transporte publico de Brasilia é ridiculo. O daqui tbm. Mas o q é mais chocante aqui é q o onibus é muito lotado, muito mais q ai, e o povo ja se acostumou, acha normal, naturalizou se. Mas transporte publico bem feito não dá lucro mesmo não, pq é infraestrutura basica, e consome muito. Daí o q eles fazem é jogar umas carroça véia pra trazer os troxa pro trabalho e ja era.
Ngm falou, mas nem acabou o metro dai e o arruda ja disse q tá a venda.
pense na desgraça....

ortegal disse...

E não é pouco planejamento o necessário para ter um transporte de qualidade, não. Paradas, trajetos, integrações, o imediato e o médio prazo... Tudo tem que estar incluso.
Mas aí, Jonão, acho que não é mais lotado do que o daqui, não.. Deve ser, no máximo igual. Nenhum ônibus é capaz de lotar mais do que o que eu já presenciei várias e várias vezes: baú lotado até umas duas ou trÊs pesssoas espremidas na porta de entrada, e aí as pessoas que sonhavam em pegar esse baú tentam tentam e são forçadas a desistir e fazer sei lá o quê, pelo simples motivo de não caber. Pior do que isso é fisicamente impossível. E aqui é natural também. Em várias satélites e no entorno 7h e 18h é naturalmente assim, incluindo o nuestro barrio. Sobre isso do metrô, eu nem sabia. Mas acho que o metrô já é um negócio meio misto, com coisa estatal e coisa privada.

Fuckin'Jay disse...

mano a solução é inventarem o teletransporte. cabou!
hahaha!

ortegal disse...

Daí ce vem dar rolé aqui no Guará direto! É nói

Unknown disse...

Transporte público, uma solução comum que favorece a maioria. Vejam o que estão fazendo para melhorar o nosso sistema de transporte público. www.onibusrecife.com.br

 
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