quinta-feira, 22 de março de 2007

Considerações sobre o Nike Shox

É engraçada essa história do nike shox. Já vi deles por até 700 reais. Se brincar, tem mais caro.
Do ponto de vista do valor, fico pensando o que é que faz um tênis que começou custando 500$ (já era o mais caro do mercado quando chegou) alcançar esse preço de 700 reais agora. Por acaso foi algum material que ficou mais caro assim 50% mais caro? Ou foi alguma barreira comercial? Se bem que um dos fabricantes de Shox é o própria Nike no Brasil (apesar desse último não ver nem a cor, nem o cheiro do dinheiro advindo do produto).
Além disso, ainda na questão do valor, trago pra cá uma dúvida: O que é, afinal, que faz um tênis ficar tão caro!? O que é que faz o nike shox valer 700$ ou mesmo 500!?

Do ponto de vista das Necessidades, fico pensando o que é o torna tão procurado. Reza a lógica da necessidade que, se estamos com frio, procuramos calor; se o que estamos calçando está ruim, procuramos algo melhor. E, pras nossas necessidades, hoje em dia as saídas são mil. Temos muitas formas de nos aquecermos e mil formas de nos calçarmos com alguma coisa. Dentro de tantas variedades, um dos critérios de escolha é o custo X benefício. A partir desse raciocínio, surge outra dúvida: Como vem a ser favorável a relação custo X benefício na compra de um tênis que pode custar o preço Sete pares de tênis!?!

***

Aqui no Guará, a relação de nike shox deve estar na margem de 3 em cada 4 playboys. Na academia onde eu malho, chega a ser engraçado. Parece até um uniforme. Teve um dia que TODOS que estavam lá, homens e mulheres, tinham um (até eu. heheh brincadera). Não adianta vir com a desculpa de que existem mil modelos de shox no mercado. Todo mundo usando o tenis igual. E isso é porque dizem que na lei do mercado, na lei do capitalismo, a prioridade é a liberdade, é as pessoas sendo diferentes pelos produtos que possuem, é autenticidade. E que num regime de maior igualdade, as pessoas estariam submetidas à ditadura da pouca oferta, da pouca variedade.

Pra você ver que nada escapa à ditadura da alienação cultural, onde só o que conta é o status vazio das mercadorias que se consome. Mais do que qualquer escassez de produtos diversificados, mais avassaladora é a massificação de um ideal vazio e unívoco, na forma de tênis.
Ainda assim, há uma massificação penetrando mais fundo e há mais tempo. Essa é a escassez da variabilidade dos espíritos; cujos corpos não vão muito além dos manequins que exibem os produtos que compraram, e suas vidas não vão muito além de uma vitrini e seus observadores.

sexta-feira, 16 de março de 2007

Agradeço por ser mulher

Agrada-me que digam que sou histérica,
porque então posso jogar os pratos na cabeça de quem me causa sofrimento.
Gosto que me chamem de bruxa,
porque então posso mudar a direção dos ventos a meu favor.
Gosto que me chamem de demônio, porque posso queimar o leito onde me abusam.
Gosto que me chamem de puta, porque então posso fazer amor com quem me dá vontade.
Gosto que digam que sou frágil, porque me lembram que a união faz a força.
Gosto que digam que sou fofoqueira, porque nada do que é humano me será alheio.
Porém, o que mais agradeço, o que mais me agrada, o que eu mais gosto e o que me faz mais feliz
é que me digam que sou louca, porque então nenhuma liberdade me será negada.
Agrada-me saber que meu cérebro é menor que o cérebro do homem,
porque então meu cérebro cabe em todos os lugares.
Agrada-me que me digam que careço de lógica,
porque então posso criar uma lógica menos fria e mais vital.
Agrada-me que digam que sou vaidosa,
porque posso olhar-me no espelho sem me sentir culpada.
Agrada-me que me digam que sou emocional,
porque posso chorar e rir à vontade. Mil e uma vezes a Inquisição me queimou
e aprendi a nascer das cinzas.
Prenderam-me em um harém e, enclausurada, não deixei de rir.
Colocaram um cinturão de castidade e adquiri a arte de um serralheiro.
Carreguei fardos de lenha e me fiz forte.
Cobriram-me o rosto com véus e aprendi a olhar sem ser vista.
Os filhos me acordaram à meia-noite e aprendi a manter-me em vigília.
Não me enviaram à Universidade e aprendi a pensar por minha conta.
Transportei cântaros de água e soube manter o equilíbrio.
Extirparam-me o clitóris e aprendi a gozar com todo o corpo.
Passei dias bordando e tecendo e minhas mãos aprenderam a ser mais exatas que as de um cirurgião.
Ceifei o trigo e colhi o milho, porém me roubaram a comida e com fome aprendi a viver.
Sacrificaram- me aos deuses e aos homens, e voltei a viver.
Espancaram-me e perdi os dentes, e voltei a viver.
Assassinaram- me e me ultrajaram, e voltei a viver.
Arrancaram de mim meus filhos e, no pranto, voltei à vida.
Agradeço por ser um animal, porque os homens colocaram em perigo a sobrevivência do planeta.
Agradeço por ser mulher
porque o homem não é o centro do universo e sim apenas mais um elo perdido na cadeia da vida.
Agradeço que me digam que sou irracional,
porque a razão tem conduzido aos piores atos de barbárie.
Agradeço por não ter inventado a tecnologia,
porque ela tem envenenado a água e o ozônio.
Agradeço que me tenham colocado mais perto da natureza,
porque nunca estarei só.
Agradeço que me tenham confinado ao lar e a família, porque posso fazer de toda a Terra meu lar e minha família.
Estou feliz que me chamem de dona de casa, porque posso apoderar-me da minha.
Estou feliz de não ser competitiva, porque então serei solidária.
Estou feliz de ser o repouso do guerreiro, porque posso cortar-lhe o cabelo enquanto dorme.
Estou feliz de ter sido excluída do campo de batalha, porque a morte não me é indiferente.
Estou feliz de ter sido excluída do poder porque longe do poder me distancio da ambição e da cobiça.
Estou feliz que me tenham excluído da arte e da ciência, porque as posso inventar de novo.
Com tanta fortaleza acumulada, com tantas habilidades e destrezas aprendidas, mulher, se tentar conseguirá o mundo do avesso.
-
(Texto de autoria desconhecida. Supõe-se ser de uma sindicalista da Guatemala)

- Recebi esse poema por uma lista de discussão da unb. Lá ele causou uma polêmica, uns aprovando e outros, não. Quero ver como ele vai se sair aqui. Aproveito pra agradecer, muito, a presença de vocês aqui. Espero que esteja valendo a pena pra vocês, pelos metade do que tem valido pra mim. Aos amigos: saibam que, ao se importarem em ler e ao comentarem, estão descobrindo mais de ti e aprofundando nossos laços de amizade.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Sobre o dia internacional das mulheres

Pro dia de hoje eu poderia colocar várias coisas..
Poderia falar sobre a história que originou a data (o que é incrivelmente desconhecido por graande parte da população).
Poderia falar sobre como andam as relações de gênero e fazer um histórico.
Etc etc etc...

Mas o que vou deixar pra hoje é (além de levantar essas inquietações aí de cima) dizer que não vou dar parabéns, do jeito que se espera. O dia de hoje simboliza Luta. E essa luta ainda não vencemos - pelo contrário, uma das derrotas que estamos sofrendo se caracteriza no esquecimento da luta que o 8 de março representa. Infelizmente, a cultura machista distorceu até mesmo o significado desse dia e nos faz comemorar uma data sem sentido. Quero dizer, como homem, que a desigualdade de gênero prejudica a ambos os lados.

Muita luta para todos, homens e mulheres, por um Brasil menos opressor em todos os sentidos.
Viva e deixe viver.

quinta-feira, 1 de março de 2007

Mais sobre o Aquecimento Global

Vou é dizer mais sobre o aquecimento. Antes de começar, um comentário: num é verdade que já tá com ar de notícia velha?! É como se o problema tivesse até ido embora...

Mas nesse novo texto, quero falar mais sobre algumas coisas que só levantei no texto anterior, que era mais geral, só pra não deixar de dizer algo no momento, no calor da discussão, pra fazer refletir sob outro ponto de vista.

Dessa vez quero aprofundar algumas coisas. A primeira delas tem a ver com o germe do aquecimento global: Afinal, o que é o motor desses problemas ambientais como um todo? Qual é a força motriz que cadencia tudo isso?
É o capitalismo. Ou melhor, o modo de produção capitalista. Como o próprio termo sugere, é o modo de produzir o sistema capitalista. Foi o modelo capitalista o responsável por fazer em cinco séculos aquilo que a humanidade não fez em toda a sua existência. O interessante é que quando vem à tona qualquer discussão desse tipo, nunca se cogita questionar o sistema vigente. Tais discussões nunca salientam a raiz que nutre esses problemas.
No capitalismo, a mercadoria universal é o dinheiro. Parece bobagem, mas muita gente não pensa no dinheiro como uma mercadoria. E como qualquer mercadoria, ela possui um valor – representa o trabalho necessário para obtê-la. Agora, a partir daí, pense na nossa sociedade atual, onde uma pessoa pode acumular dinheiro irrestritamente, ao ponto de acumular por mês o equivalente ao sustento de dez, de cem, de mil pessoas? Esse dinheiro (essa mercadoria) excedente no mundo tem sua origem em algum lugar da natureza.
O que quero mostrar com isso é que esse excedente de mercadorias que o capitalismo possibilitou acumular é produzido às custas do estrangulamento do planeta. Os recursos naturais estão em escassez hoje devido às necessidades criadas por esse sistema, e não há outra saída para saciar tais necessidades, se não exaurindo as riquezas do planeta. O detalhe é que estamos consumindo muito além da cota que o planeta suporta.
Essa corrida no desfiladeiro está cada vez mais intensa. Na época da ECO 92, a idéia era reduzir em 5% na emissão de poluentes pros países industrializados. Porém o balanço apresentado em 2004 na Convenção de Mudanças Climáticas mostra que de 90 até 04 houve foi um aumento de 11%. Hehehehe. E na contrapartida do desespero, 80% das mercadorias consumidas no mundo estão concentradas em apenas 20% da população mundial atualmente. Isso ilustra um pouco do que eu disse no começo.

Até aqui o que pretendi foi mostrar macro-aspectos de como o capitalismo em que vivemos é responsável por tudo isso. Só que nesse quadro amplo aí, existem características peculiares, hábitos específicos que geram enormes prejuízos ao ecossistema. Gostaria de falar sobre um deles.

O hábito que quero destacar nesse texto é o da alimentação. Quero mostrar as implicações da alimentação e da produção de alimentos na sociedade capitalista. O hábito aparentemente inocente de se alimentar tem implicações diretas na poluição do planeta e efeito estufa.
Pra começar, a FAO revelou no ano passado que 18% (quase um quinto) das emissões dos gases que provocam o efeito estufa. Ou seja: polui mais do que Todo o setor de transporte (desde moto e carro até avião e barco).
Entre os 75% das emissões brasileiras, grande parte se concentra no rebanho bovino, pois tem o segundo maior rebanho bovino do mundo (FAO). Nosso rebanho bovino emite 10 Milhões de toneladas de metano por ano (isso corresponde a mais Trezentos Milhões de Toneladas de dióxido de carbono).

Isso sem contar a poluição impiedosa despejada nos rios, açudes e nascentes despejada diariamente, que são as fezes dos animais criados pro abate e pra produção de leite e de ovos. Tudo isso se converte na dieta de grande parte da população humana.

Vou parar por aqui, mas queria que a nossa reflexão individual, nossa consulta interior a respeito de tudo isso não parasse por aqui, não. O consumo e o não-consumo de alimentos é uma das formas de boicote e de protesto mais eficazes que já vi. É ininterrupta, é 24 horas por dia. Pense no poder que isso representa e a serviço de quem está sendo utilizado. Em nome da coerência.
 
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