quinta-feira, 11 de junho de 2015

Epifania de junho



Voltando a pé, da biblioteca pra casa umas seis horas, estive olhando o céu, quando me dei conta de que estava diante de um espetáculo cotidiano. Um degrade de azul que se encontra no horizonte com o resto de amarelo que deixou o sol que nem mais ali está. Só tinham duas estrelas no céu. Quando olhei pra trás, vi que na verdade eram três. Aquele céu limpo, lindo, com umas nuvens já roxas perto da linha do horizonte, lá longe... um clima bom, missão cumprida no dia de hoje... olhei pra tudo ao meu redor, e simplesmente quis agradecer a Deus por essa grande oportunidade. Essa oportunidade de existir, de estar no mundo. De respirar esse ar seco do mês de junho. De ter o afeto da minha mãe, de ter amado, de ter tanta gente viva na minha vida. De ter salvado dois gatos. De ter problemas e de poder resolver. De ter feito bem a um monte de gente, apesar de ser um tanto atrapalhado. Fiquei olhando aquelas duas estrelas, e lembrando daquela estrela que estava em minhas costas. Lembrei de Saint Exuperry, do Pequeno Príncipe, daquela raposa. E pensei em quem eu amo e está ali. Quem seriam aquelas três estrelas, ali, brilhando pra mim? Meu pai, Luísa e Turco, pensei. São eles três. Se exibindo, estando juntos, unidos em torno de mim. Me fazendo feliz e agradecido. Enchendo meus olhos de lágrimas. Uma delas brilhava tão forte, era grande... seria um planeta? São tantos planetas no cosmos... e o cosmos? Como será que está o universo nesse exato momento? Talvez do mesmo jeito de sempre. Um escuro gigante, e pedras andando pra lá e pra cá. São corpos celestes. De um céu que eu nem consigo alcançar. De repente esse monte de azul ao meu redor me pareceu um lençol, uma grande cortina fechando o planeta.. mudando de cor em Brasília. Uma manta linda... e aquelas estrelas agora pareciam até mesmo três furos na manta, e a manta azul que cobre a terra de uma imensa luz, com apenas três furos. Um morcego saiu de uma árvore e voou pelas minhas costas. Depois reparei que dois pássaros também voavam ali na frente, cada um para um rumo. Os últimos pássaros do entardecer. Todo mundo procurando suas casas, ou quem sabe um galhinho quebra-galho para passar a noite. E tudo já estava quase escuro mesmo... como o planeta anoitece veloz em Brasília... a vida também é veloz... Entrei pra dentro de casa, peguei o computador, e vim escrever na varanda, de baixo do meu pé de mini roseiras rosas. Rosas que eu nunca colhi. Elas nascem clarinhas, ficam bem rosa, e morrem escuras, lilases. Tudo junto na roseira também fica bonito. As nuvens que eram escuras no céu, agora estão altas, num cinza claro, mais claro que o céu, que agora já é todo azul escuro. Um manto cada vez mais esburacado, de muitas estrelas, competindo com cada vez mais luzes elétricas. Tem um gato fazendo bagunça num banco de areia de obra logo ali do outro lado da rua, meu gato passeia pela varanda de um lado pro outro querendo sair sem poder, e eu estou aqui, tomando um suco de graviola, do lado de rúculas bebês da minha horta, do meu pé de manjericão que é quase um ancião, em baixo da minha roseira, nada disso me pertence, mas eu acho que pertenço a tudo isso, e me sinto feliz. Obrigado.

2 comentários:

Clarice disse...

Adorei! Simples cotidiano que encanta.

ortegal disse...

Que bom, Clarice! A ideia era essa mesmo, transmitir esse mundo encantador que é possível desvendar..

 
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