Texto: Danilo Silvestre*
Foto: Denis Silvestre
Foi comum lermos e ouvirmos que as grandes manifestações realizadas
em junho pegaram o governo, a Fifa e o mundo de surpresa. A pergunta
que fica é: a ocorrência dos protestos realmente podia ou não ser
prevista? A resposta é que sim e que não, como tento demonstrar
nesse texto.
Nenhum governante pode dizer que não esperava que ocorressem
protestos em junho. Em relação à Copa das Confederações e à
Copa do Mundo, existem os Comitês Populares da Copa, que contam com
a participação de diversos movimentos sociais, como o Movimento dos
Trabalhadores Sem Teto, por exemplo. Tais Comitês lutam contra o
legado negativo da Copa, tais como as remoções de moradores para
construção de avenidas e outras obras relacionadas aos eventos e a
privatização dos estádios depois de terem consumido bilhões de
reais de dinheiro público.
Além disso, diversos governos municipais e estaduais, como os de São
Paulo e Rio de Janeiro, haviam adiado o reajuste das tarifas dos
transportes coletivos para junho, como uma forma de combater a
inflação. E as lutas contra o aumento das tarifas, passe livre
estudantil e tarifa zero no transporte coletivo são algo constante
em diversas cidades, sendo costumeiramente liderado pelo Movimento
Passe Livre (MPL), assim como foi na cidade de São Paulo. Ou seja,
não existem razões para dizer que a realização de protestos em
junho era imprevisível, pois não era. O fato novo aqui é que Porto
Alegre acabara de sair de uma luta vitoriosa em que o aumento das
passagens foi revogado.
No entanto, os protestos de junho também foram imprevisíveis, no
sentido de terem sido grandes mobilizações de massa e bem
radicalizados, extrapolando o público ligado aos movimentos sociais
e fazendo que, em muitos casos, as reivindicações fossem difusas e,
até mesmo, contraditórias, como pessoas a favor e contra a redução
da maioridade penal na mesma manifestação.
Outro ponto importante é que as manifestações cresceram após a
repressão e a tentativa de criminalizar os manifestantes, o que foi
rechaçado por meio das Redes Sociais, dentre os quais se destaca a
tentativa de criminalizar os integrantes do Grupo Brasil &
Desenvolvimento, de Brasília, e a forte repressão aos jornalistas
em São Paulo. Este ponto era imprevisível por ser algo novo, mas
não inédito. Na mesma cidade de São Paulo, a Marcha da Maconha foi
duramente reprimida pela Polícia Militar e ganhou mais corpo com a
Marcha da Liberdade, que é um movimento pela garantia da liberdade
de expressão e manifestação.
O que fica como lição é que chegou o momento do Brasil tratar
mobilizações e movimentos sociais como eles realmente são: pessoas
e grupos em busca de direitos e com algo a dizer, e não como
criminosos. As redes sociais fazem (ou podem fazer) com que o Estado
tenha seu Big Brother, estando em constante vigilância, o que faz
com que abusos por parte do poder público não sejam tolerados tão
facilmente e nem que as informações sejam apenas repassadas pelas
fontes oficiais, mas por toda e qualquer pessoa, fazendo com que a
comunicação seja mais democrática e plural.
*Danilo
Silvestre é cientista político pela Universidade de Brasília,
publicitário e técnico de comunicação social na CEB Distribuição
Um comentário:
Não resta dúvida que, com todos os erros e acertos das manifestações desde junho, o grande saldo é o avanço no reconhecimento do direito de protestar. Eu só acrescentaria que houve também um avanço na consciência de que qualquer pessoa pode produzir e disseminar mídia, que esse poder não é restrito aos órgãos oficiais e aos "jornais oficiais".
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