Esse post de hoje caracteriza bem a idéia do Carta Desmarcada. É uma notícia atual e uníssona na mídia brasileira e internacional que nos cerca. Tá meio difícil pra mexer com internet e computador nesses tempos de pós-cirurgia pra mim, mas ou eu fazia isso logo ou o momento oportuno iria passar.
É sobre o fechamento da Rádio Caracas de Televisión – RCTV, na Venezuela. Antes de qualquer coisa, quero deixar claro que entre os dois pólos (o “contra” e o “a favor”), podem existir considerações que pendendo tanto prum lado como pro outro. Mas, como a nossa mídia nitidamente polarizou-se pro lado contra, me restou o papel de advogado do diabo.
A notícia já está dada há algum tempo e todo mundo já está sabendo. O modo esse quadro foi pintado por todas as agências midiáticas (as maiores, obviamente) também já sabido, embora a maioria não tenha se dado conta disso. Então, o que sobrou pra mim foi o de tentar mudar o foco da discussão e dar destaque a certos elementos que são, pra mim, fundamentais para a compreensão desse ocorrido. Como não é minha intensão fazer um post grande demais ou ficar falando sozinho, vou tentar destacar o que acho mais importante.
O primeiro elemento é o porquê, ou qual é o interesse nesse ocorrido. A primeira reflexão a ser feita é de que Chávez se encontra numa enrascada – mexeu com quem diz o que aconteceu no mundo e como aconteceu. Ele cutucou a mídia e quem ficou encarregado de dizer como isso ocorreu foi a própria mídia. Sendo assim, haveria alguma possibilidade da Globo se posicionar favoravelmente à medida na Venezuela, independente das razões?! Aliás, a sucursal da Globo na Venezuela cedeu um importante espaço em sua grade para a RCTV continuar transmitindo alguns de seus programas. Será que há possibilidade?
Tem outro ponto que também é sobre interesses, mas nesse caso o que quero destacar é a relação entre as motivações, de um lado as de Chávez e sua equipe de encerrar a concessão da RCTV e, do outro lado, a motivação da mídia em geral para ter veiculado propaganda nitidamente negativa à medida de Chávez (aproveitando pra criticar seu governo) e de forma tão tendenciosa.
Pra discutirmos isso, é necessária uma mudança de prisma, pra desmistificarmos o ar de verdade absoluta que paira sobre qualquer palavra proferida por Wilian Boner, Carlos Nascimento, família Civita (Veja) aos tão massacrados olhos e ouvidos do nosso povo brasileiro.
Não precisou ser combinado, mas as matérias seguem um mesmo padrão. A linha principal de argumentação é: ‘se agrediu a mídia, violou o direito de liberdade de imprensa e de expressão, e é nazi-fascista’. A coisa fica tão louca que precisa haver uma explicação à altura pra uma atitude tão medonha: ‘Trata-se de um Ditador!’ Ah tá.. Agora sim, faz sentido. No entanto, como diz o Emir Sader, a imprensa se refere a Chávez como ditador, mas quando vai falar de Bush é o presidente Jorge W. Bush, quando se remonta a Getúlio, era o presidente Getúlio Vargas, ou mesmo pra falar de Costa e Silva, Castelo Branco e etc. Quando se fala sobre uma imprensa democrática, mídia e democracia, simplesmente fica de fora qualquer menção ao fato de que quem controla a mídia é um micro segmento social, encrostado no topo da montanha de pobreza e discriminação, que é a América Latina de modo geral. Não se fala que na mídia não tem negros, não tem pobres e não tem nada que deslegitime o capitalismo e nem a desigualdade abissal a que estamos ‘acostumados’. Será que os proprietários da RCTV estão pensando na democracia, ou mesmo na pobre nação venezuelana, ou estão pensando em seus próprios bolsos?
O fato é que quando se questiona a democracia na imprensa, não se questiona o fato de que são oligarquias e grandes empresas que detém o monopólio da mídia e se apropriam dela para fins privados. Na época do ultimo falido golpe contra Chávez, não se questionou o fato de que a RCTV apoiou tal atitude antidemocrática abertamente. No Brasil, não se questiona o fato de que o Grupo Naspers, que apoiou e financiou o Apartheid na África do Sul é proprietário de 30% da Editora Abril, responsável pela Veja. Isso aí, não, isso aí não deu no jornal...
# Hoje é sábado. Amanhã se completa uma semana desde a não renovação da concessão pra RCTV. E o JN lançou panfletos em cadeia nacional todos os dias dessa semana, sem exceção.