Mas o texto não é sobre mim ou a minha doença. Isso é apenas o gancho para uma reflexão sobre as doenças que contaminam o mundo. Por mais que se tente, doença é uma coisa que não se restringe a pobres ou discriminado. Com maior ou menor frequência, até os mais ricos do mundo ou os moradores dos países com melhor sistema de saúde do mundo ficam doentes. Todos estão vulneráveis, basta ser ser humano. A diferença é que em países da América Latina e África e tal, uma simples gripe ou diarreia é perigo de morte. Grande parte dos governantes e autoridades do mundo não sabem o que significa viver na pobreza, na miséria, na escassez, e é difícil esperar que as meras informações visuais e livrescas sejam o bastante para fazer compreender o tamanho da dor. Sensibilidade é uma virtude raríssima.
Contudo, se por um lado o rico não conhece a dor do pobre na pele, ricos e pobres estão sujeitos a elevados graus de febre, a diarreias intensas, ao câncer, diabetes, e etc. E se já adoeceu, já sentiu. Mas, se já se sentiu, porque permanecem as coisas do jeito que estão? Por que quase meio milhão de pessoas (a larga maioria de pobres) tem que morrer todo ano por causa de uma simples gripe administrável, milhões e milhões de pessoas que morrem ou padecem por anos sofrendo de males que um atendimento simples à saúde poderia amenizar? Por que permanecem tão poucas as unidades de saúde? Fico pensando se o grande empresário, quando sofreu lá o seu revestrés e amargou um punhado de dias de cama, não se põe no lugar do seu empregado, a quem nega um salário digno e o acesso a um plano de saúde, apenas por que não pode enriquecer menos do que tem enriquecido às custas da espoliação do trabalho mau pago dos seus. E em escala maior, Haiti, Palestina, Somália, Serra Leoa, Semi Árido, e agora Pernambuco e Alagoas sofrem com a omissão histórica e atual do governo frente às enchentes que estão ocorrendo na região. Fico imaginando como está a atenção à saúde dos idosos e crianças desses lugares.
Não se trata de uma simples questão política como o a educação decente ou a um transporte decente ou lazer, pois o rico e o político raramente sentiram na pele e tiveram capacidade para conhecer o mau que isso traz. Todo ser humano sabe o que é um abalo na saúde, e na hora da enfermidade é capaz de refletir que sem saúde, de nada adianta seus bens ou riquezas, e consegue sentir exatamente o que sente todo ser humano nessa situação. A humanidade está em estado de coma.