Eu estava na EPTG, quando meus olhos se abriram. Era um belo dia de sol com nuvens no famoso céu do Distrito Federal e eu senti que os horizontes estavam abertos para mim, pois eu pude enxergar além. Eu estranhei a facilidade de tamanha visão e, após esfregar os olhos e olhar ao redor, uma placa/outdoor publicitário me explicava a origem de tudo.
Eu fiquei impressionado com aquela bizarrice. Árvores derrubadas aos montes, e muita, muita terra revirada. Mais poeira e menos verde: essa é a “nova EPTG”, moderna e adaptada para os cidadãos. E esse é o modo do governo Arruda/Paulo Octávio demonstrarem o seu “Compromisso com o Futuro”. (!)
Mais piche, menos árvores. Área de preservação ambiental? Dane-se! Cortem logo essas árvores centenárias! Temos que sufocar essa terra, com muito asfalto para fazer passar o progresso. Enquanto isso, a passagem do Metrô subiu nada menos do que 50%, para os inviáveis R$3,00, para fazer jus ao título de passagem mais cara e pior transporte do Brasil. Eu não sei se isso irrita a você, mas quando vi essa placa, eu fotografei foi de indignação. Parece sacanagem com a minha cara, oras! Mas antes que eu me revoltasse, eu finalmente compreendi. É que não é por mal, mas no DF atual, as coisas funcionam de pernas pro ar. É tudo ao avesso, como no mundo de Galeano.
É por isso que, se temos mais gente andando pra lá e pra cá, não se aumenta o número e nem a qualidade dos ônibus. Não se repensa a tarifa. O GDF de ‘Arruda’, ironicamente, derruba árvores e joga mais piche. De que adianta só pista, se os baús andam entupidos, como as malditas latas de sardinhas!? Além de poucos, são caros, além de caros, são péssimos e, além disso, não existe integração de nada com coisa nenhuma. Centenas de árvores a menos, a dar lugar a petróleo e fumaça. E como isso se chama? LINHA VERDE! Hahahah!
E a mais nova da cidade ao avesso é a seguinte: cansado do trabalho pedagógico feito com a população do DF ao longo de anos por um educador chamado Cristovam, o GDF atual resolveu dar um tom que combinasse mais com esse governo. O que fazer com talvez o único ‘estado’ do país onde o pedestre chega com bom senso na faixa, espera os primeiros carros passarem, acena com a mão, e depois que todos os carros pararam ele atravessa a pista? Vamos colocar semáforos para dizer a esse bando de civilizados a hora mecânica de eles pararem! Então, numa canetada (cuja tinta cheira a troca de favores com a indústria do controle do trânsito) o GDF manda instalar semáforos nas faixas de pedestre de toda a cidade. Afinal, pra quê investir em iluminação, sonorização, placas informativas e manutenção periódica das faixas, se podemos pagar mais caro num semáforo que acenda uma luz para parar e outra para seguir? E eu disse “podemos” não foi a toa. Vem do nosso bolso o dinheiro que bancou esses sinais, e todo o resto. Mas, voltando assunto, vamos falar do resultado. O resultado? Nada melhor: uma cidade onde se aperta o botão do sinal pra atravessar, mas se atravessa ainda no vermelho, pois o fluxo de carros deu uma trégua, e aí, quando o carro chega, está vermelho pra ele e ele pára. Mas pára pra quem, se o pedestre atravessou quando ainda estava verde pro carro? O resultado é uma maravilha do mundo ao avesso: vermelho para os carros quando não há pedestres, e vermelho para os pedestres quando não há carros! E o verde? Ah, o verde... um dia estaremos todos pintados dessa cor, como já está sendo com os prédios, as logomarcas... e, quem sabe um dia, o próprio céu será de verde-arruda. Pois hoje a cor do céu ainda é um resquício do antigo patriarca do DF.
Além desses dois exemplos peculiares, ainda temos outros. Muitos, muitos postos policiais, para vigiar uma gente que dispõe de poucos, poucos postos de emprego e escola. O governo é capaz de contratar um policial para cada cela do CAJE, mas investir em infraestrutura para um atendimento minimamente eficaz!? Isso jamais! É muita coerência para o governo das pernas pro ar poluído. E recomendo também uma espiadinha (valeu Bial! Nem te assisto, mas sua gíria eu já sei!) no orçamento do DF para o próximo ano. Olha lá a saúde, educação e assistência social – se você conseguir enxergar -, mas antes de cair em desespero você olha pro orçamento gordo obeso da copa do mundo no DF e relaxa... Os estádios serão construídos com o seu dinheiro pro DF ser cidade sede. Tá certo que quem vai assistir são os gringos, e a população do DF (exceto o playboy e um ou outro operário fanático) vai ficar de fora vendendo apetrechos e bebidas...
...Mas é assim mesmo no DF, a cidade que é um mundo ao avesso.
10 comentários:
é né meu mano!!! Sustenta q o bagui tá loco!
não aguento mais ver linha verde, postinho de policia verde, cartaz verde... se o cara pelo menos fosse um ambientalista ou um partidário do PV (não que isso represente muita coisa ainda), mas nãão!!!! é um personalismo escancarado, Arrudíaco!!! Ele ainda não entendeu que arrudas e outras rutáceas não dão em cimento, piche e concreto. Aliás, pouquíssimos e raros tipos de vida.
Daqui a pouco, não tá nem pra Galeano isso aqui.
Essa coisa do cromopersonalismo é realmente algo exagerado no DF... Quem está em meio a espaços de disputa política (entendida em sentido amplo, não necessariamente partidário) é difícil não ficar associando as cores aos governos.. Seria interessante fazer uma lista das coisas que já foram azuis, passaram a vermelhas, voltaram a azuis, e hoje estão verdes...
...De uma coisa eu sei. Pra ter que ser disputado na base da tinta, tem que ser uma disputa muito das fracas mesmo.
Olá Leonardo.Tudo bem?
Bom artigo, importante criar um espaço e repensarmos nossas políticas públicas.
Estou na antologia poética do Guará. Este é um convite para dar uma passadinha no meu blog!!!
Abraço,
Del.
pois é irmão, é quente mesmo .. infelizmente o que eles querem é só enriquecer, e, não importa como.
abraço
Faala Breno!
Seja bem vindo aí.
Realmente é quente.. e tudo isso só tende a esquentar ainda mais...
Mas aí, Breno. Se vc voltar por aqui, depois explica mais e melhor o seu comentário, pode ser?
abraço
É Leo, tem razão. Aliás, é muito importante falar sobre isso porque da última vez que eu fui ai em Brasília fiquei muito impactado com o aspecto triste e estranho por conta da criação da tal "linha verde". As pessoas que moram aí certamente sentiram esse efeito e ainda o sentem diariamente, mas as coisas acontecem gradativamente pra elas. Pra quem vem de fora e conhecia a cidade em outro estado físico e de espírito sente de imediato uma sensação de desequilíbrio e tristeza. Pra quem pedalou sempre acompanhado de árvores e tinha uma sensação de conforto para uma selva de pedras, como eu tinha, agora só conta com lembranças. Só falta aterrar o Lago e construir prédios nos parques da cidade para aniquilá-la de vez. (sobre isso não vou comentar muito pra não dar idéia). O que vou dizer agora não serve de consolo, talvez sim sirva para aumentar o desespero e desconforto dos mais sensíveis à essas questões, mas vou revelar o óbvio. Isso não acontece só aí não. Aqui em Floripa, a ilha da magia, estamos fazendo desaparece os mangues por exemplo, e é uma mágica tão bem feita que ninguém sabe ou sequer desconfia como aconteceu e quando sabem... já viu mágico ou seus assistentes revelarem seus segredos?
Hoje recebi na rua um folheto cujo conteúdo era sobre ficar um dia sem o carro. O mais interessante disso tudo é que apesar de legítimo e importante o princípio desse evento, talvez por ter sua origem na iniciativa privada ou em algum particular, o evento tem a "participação e apoio" hipócrita daqueles que negam um transporte público descente e viável para que as pessoas queiram fazer isso não só um dia, mas impactar de forma positiva o meio em que se vive usando com frequencia o transporte público ou outras alternativas mesnos prejudiciais a saúde do planeta. Isso afeta diretamente a qualidade de vida da população.
Mas, talvez a solução desses problemas vá além da nossa imaginação porque interesses não tem limites próprios.
Helton O. Brandão
Valeu primo.
Grande abraço.
(gosto muito de Floripa, mas devo reconhecer seus defeitos).
Heton, se a gente fosse elencar tudo o que o Arruda tem feito nesse sentido ia dar bastante coisa.. Setor Noroeste eu fiz questão de falar, tem o PDOT que vai encher o DF de um jeito absurdo... por aí vai. Boa parte da razão do clima de Brasília ser assim foi o modo como a ocupação do território e a derrubada da vegetação nativa aconteceram. Quem vem pelo velho Guará ali pelo II, onde tem aquele descidão da reserva ecológica pode sentir que o clima ali é outro. Mas basta entrar no bairro e a secura retorna...
E realmente, o dia mundial sem carro esse ano veio com o apoio do ministério das cidades... Engraçado, pq se o estado quisesse tanto uma cidade com menos carros, não teria privilegiado a indústria de automóveis com a redução do IPI. 'Em tempos de crise, crie'.. talvez incentivar a circulação mais onibus e de repente isentar um imposto das empresas fizesse com que a população se locomovesse mais, gastando menos. Mas, quem disse?
Só sobre essa parte da imaginação que penso: eu acho que a minha funciona muito bem pra pensar em soluções pros problemas. Chego a pensar que existe mais de um caminho. Mas o problema é a realização.. Pois dentre tudo aquilo que imagino como solução, as idéias mais plausíveis requerem esforço, mobilização das pessoas. E é aí que a coisa complica..
Valeu primo! Apareça!
Compartilho de toda a indignação
Ô Léo, gostei do texto, realmente Brasília e seu "canteiro de obras" é motivo para indignação a cada esquina... o Arruda da ressignificando a cor e na minha opinião isso é algo que não deveríamos deixar acontecer, dizer por aí que isso tudo não é verde coisa nenhuma. Todas essas obras afim de abrigar mais e mais carros em Brasília, nenhuma política de desafogamento além de "alargar pistas" e criar ridículas linhas verdes desarborizadas (além do condomínio "verde e desmatado" do setor noroeste) estão acabando com o pouco que havia de bom por aqui.
Só não gostei da associação do céu com o "governo anterior", o céu é o que temos de mais bonito por aqui e espero que nenhum Roriz, Arruda e afins consigam transforma-lo em mais uma apropriação pessoal!
Beijo!
Postar um comentário