quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O mais baixo de quê, Boris?



Há três anos atrás ocorreu um episódio chocante na televisão brasileira, e esse episódio gerou outro que, pelo menos pra mim, é mais chocante ainda. Foi numa véspera de ano novo, num jornal da Band, quando dois garis muito simpáticos pararam o rala pesado para desejarem um feliz ano com muita paz, muita saúde e muito trabalho. Lembra? (vídeo) Mal apareceu a chamada do comercial e Boris Casoy destilou: “Que merda... dois lixeiros.. desejando felicidades do alto das suas vassouras.. o mais baixo da escala do trabalho...” até que um funcionário do jornal avisou o vazamento de áudio. Hoje em dia imagino... o que será que ele continuaria a falar sobre os lixeiros se ninguém o tivesse parado? Talvez alguma teoria de que deveríamos escravizar essa gente.. não sei. Não duvido da criatividade daquele tiozinho fascista.
Na época, escrevi um texto realmente indignado sobre o assunto, e ao final puxei um Movimento Fora Boris. Outras pessoas fizeram o mesmo, cada uma ao seu jeito. É claro que não somos grandes como a Band, mas vai que essa coisa se torna um viral? Se “Luiza está no Canadá” conseguiu, quem sabe a gente não consegue 10% disso? Entidades sindicais processaram o jornalista, a nossa juventude memória de peixe se indignou na internet por algumas horas, o jornalista pediu asquerosas desculpas, e nada mudou, exceto pelo fato de que no mês passado a Justiça de São Paulo condenou Boris a pagar míseros 21 mil reais a um dos garis, três anos depois, por danos morais. Enquanto isso, Rafinha Bastos paga R$ 150 mil a Wanessa Camargo. Pelo visto a moral e a honra de um gari valem menos aos olhos da nossa Justiça. Na verdade, Boris teria que ter pago também era uma boa quantia a alguma entidade de utilidade pública, afinal foi um dano à saúde de todos nós.
No meio das lutas do povo, a frase “jamais esquecer” é como uma máxima, em razão do perigo da volta de nossos algozes. É como a lição do Jumento Saltimbanco: “os humanos, eles sempre voltam”. E nós não podemos nos esquecer que aquele velhinho do jornal que parece ser inofensivo, na verdade tem nojo dos pobres, e foi um comparsa da ditadura militar no Brasil. E se o vídeo é chocante, como eu havia dito no início do texto, o que me parece mais chocante é saber que esse calhorda continua ao vivo, alimentado pelos milhões de brasileiros que simplesmente... esqueceram.
Lembrar desse caso era uma das razões de escrever esse texto. E a outra, é comentar o que ocorreu esses dias em algum lugar do Brasil, do lado da sua casa. A população de duas cidades brasileiras jogaram quilos e quilos de lixo em frente à prefeitura da cidade. Aconteceu em Belford Roxo e em Várzea Paulista. Atraso de pagamento e descaso por não ter sido reeleito são algumas das razões para a paralisação dos garis das cidades. O mais baixo da escala do trabalho? Aguarde três dias sem coleta de lixo e veja só o que seu bairro se torna. Agora, imagina o que seria varrer o William Bonner, o Boris Casoy, o Carlos Nascimento e o Datena do ar por um mês?

Feliz ano novo! Aos garis e a todo o meu povo!

Leonardo Ortegal é assistente social, mestre em política social e colunista do Jornal O MIRACULOSO
 
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